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Leonardo Padura

A liberdade

Somos mais livres ou continuamos vítimas de pressões que afetam o nosso direito à liberdade?

O exercício da liberdade do indivíduo é --ou deveria ser-- um de seus direitos inalienáveis. Mas a prática dessa opção em muitas ocasiões se vê limitada pela presença de poderes, preconceitos, dogmas e até mesmo simples lemas que pretendem, e até conseguem, limitar a liberdade individual. Nesses casos, sua busca pode se tornar uma manobra arriscada pela qual um homem deve pagar o preço.

A liberdade a que me refiro, claro, não tem qualquer relação (ainda que o inclua) com o infame sistema que escravizou milhões de pessoas ao longo da história, muitas vezes pelo uso da lei.

A liberdade de que falo é mais sutil, menos elementar, mais filosófica ou social. É aquela que incorpora o direito de pensar, agir, opinar --sempre e quando essas ações ou reflexões não signifiquem reduzir a liberdade do outro.

Ao tema da busca dessa liberdade social e espiritual, e ao preço que muitas vezes é preciso pagar para desfrutar dela, dediquei meu mais recente romance, "Herejes".

Nele conto as histórias de três indivíduos que, em contextos históricos e sociais diversos, cometem a heresia de pretender pensar com a própria cabeça, e fazê-lo livremente. Cada um deles sabe ou pressente o risco que assume, mas, como a pretensão de viver em liberdade é consubstancial com a condição humana, enfrentam o desafio... e sofrem as consequências.

Em um dos mais comoventes romances do século 20, "Vida e Destino", o judeu russo Vassily Grossman, quando se refere ao que significaram os grandes totalitarismos do século 20, o fascismo e o stalinismo soviético, assegura que "o instinto de liberdade do homem é invencível. Foi reprimido, mas existe. O homem condenado à escravidão se converte em escravo por necessidade, não por natureza. (...) A aspiração do homem à liberdade é invencível: pode ser sufocada mas não aniquilada. O homem não renuncia à liberdade por vontade própria. Nessa conclusão, se encontra a luz de nosso tempo, a luz do futuro".

Em nome de grandes ideias, muitos homens foram condenados a perder a liberdade --e a vida-- em campos de concentração e gulags. Mas casos extremos não são os únicos que exercem peso sobre a aspiração de liberdade dos indivíduos.

Por motivo de preferência sexual, de crença religiosa, de opiniões políticas ou sociais, os homens sofreram os mais diversos castigos, os quais, em geral, começam com a limitação de suas liberdades pessoais e seu direito de exercê-las --e repito: desde que essas liberdades não impliquem a limitação das liberdades alheias.

Somos, os homens de hoje, mais livres ou continuamos vítimas de pressões que afetam nosso direito à liberdade e seus benefícios, como o de expressão e o de opinião? Desta vez, deixo-lhes a pergunta e um convite à reflexão.


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