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Marcos Troyjo

'Brics 2.0' e sua prova de fogo

Caso o crescimento em um dos Brics ou no grupo todo estanque, suas instituições serão postas em xeque

Chamar a atenção do mundo para seu potencial como propulsores do crescimento global --esta é a essência dos "Brics 1.0".

Depois da Cúpula de Fortaleza, ao lado da projeção geoeconômica, acrescenta-se à sigla uma família institucional. O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) é seu primogênito. Seu sucesso e sua relevância serão a prova de fogo da fase "Brics 2.0".

O mantra de qualquer guru de administração de empresas ensina que tão importante quanto a concepção é a execução. Mais centrais do que este ou aquele cargo na burocracia do banco serão o acerto no horizonte estratégico, a competência do corpo técnico e projetos que ajudem os Brics a retomarem taxas de crescimento vigorosas.

Com isso, o NBD se afastará do risco de ser usado como caixa de ressonância de uma imaginária aliança do Sul emergente em arremetida quixotesca contra o Norte desenvolvido.

O simpático discurso do premiê Xi Jinping no Congresso brasileiro, com loas à parceria Brasil-China como "paradigma da cooperação Sul-Sul", foi conversa para urso panda dormir. Nossas trocas comerciais com os chineses estão em US$ 90 bilhões.

O comércio China-EUA é de quase US$ 600 bilhões --Pequim é superavitária em US$ 320 bilhões. Com a União Europeia, são US$ 430 bilhões de intercâmbio comercial, em que a China embolsa US$ 132 bilhões. EUA e UE são os principais investidores diretos na China.

Caberá à Índia a primeira presidência executiva do banco. Esses movimentos inaugurais concentram-se na estruturação organizacional --na arrumação da casa, antes mesmo do início das atividades do NBD como provedor de crédito. O Brasil exercerá a presidência do conselho, órgão que define os rumos estratégicos do banco.

A presença de outros países como sócios do NBD pode ser positiva. E, desde que pelo menos um do Brics seja parte interessada, os projetos devem envolver países de fora do grupo. A chave é manter estrutura enxuta e não expandir horizontalmente a tomada de decisões.

Se bem gerido, o banco se tornará importante fonte de recursos para projetos, ideias e melhores práticas nos Brics e em outros países nas áreas de infraestrutura e inovação. O NBD também pode ser catalisador de outras iniciativas que contribuam para a reforma da governança global.

Mais do que tudo, a nascente instituição será influenciada pelo desempenho econômico de seus fundadores. Caso o crescimento em um dos Brics ou no grupo como um todo estanque, suas instituições serão postas em xeque. O NBD será a primeira a perder seu significado.

Ao contrário do que certos discursos oficiais levam a crer, não se lançou em Fortaleza pedra fundamental de uma nova ordem econômica. Apesar do relevo simbólico e potencial, o NBD não é panaceia para os males do subdesenvolvimento no mundo --e muito menos no Brasil.

Reformas internas voltadas à modernização do capitalismo no Brasil são cem vezes mais importantes que o banco dos Brics no desafio de fazer o país voltar a crescer.

mt2792@columbia.edu


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