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Perito brasileiro critica bloqueio na Ucrânia

Ação de rebeldes pró-Rússia prejudicou identificação de corpos após queda de avião, diz Carlos Eduardo Palhares

Membro da Interpol e da PF, perito afirma que problema não impedirá identificação, mas ela poderá demorar meses

LEANDRO COLON DE LONDRES

O perito brasileiro da Interpol Carlos Eduardo Palhares, do grupo de identificação das vítimas do voo MH17, afirmou nesta segunda (28) à Folha que o bloqueio do acesso ao local dos destroços prejudicou a identificação dos corpos e, em tese, a investigação da tragédia no leste ucraniano.

"Se do lado do corpo é achado um passaporte e isso é anotado, o corpo pode estar até numa condição ruim, mas é possível fazer uma vinculação com uma biografia. Mas isso não ocorreu; não veio nada que vincule os passageiros", explicou ele.

Membro da Polícia Federal, Palhares preside a coordenação da Identificação de Vítimas de Desastres da Interpol e integra a força-tarefa internacional que investiga a queda do voo da Malaysia Airlines, no dia 17. É a primeira vez que fala do caso.

"Em teoria, do ponto de vista de investigação, perderam-se vários elementos que nunca vão ser recuperados. Quais são? Não sei, porque se perderam", disse.

Embora sua função seja ligada à identificação dos corpos (há um grupo específico para investigar a causa da queda), o perito disse que, em teoria, seu trabalho pode ajudar na apuração do que levou à queda. Os rebeldes pró-Rússia são acusados de derrubar o Boeing com um míssil.

"O corpo no geral pode trazer informação referente às causas do acidente. Por suposição, se foi uma explosão, os corpos que estavam mais próximos vão sofrer mais na pressão. Pelo exame dos corpos, em teoria, é possível tirar algumas conclusões a respeito da dinâmica do acidente", explicou o brasileiro.

Segundo ele, é fundamental a preservação da área da queda de qualquer avião por se tratar, num primeiro momento, da "cena do crime".

"E só há uma chance de fazer um trabalho bem feito, que é a primeira vez. Se num primeiro momento você não faz, já é ruim. E aquela informação que você não pegou não pega nunca mais", disse.

São cerca de 200 especialistas atuando em Amsterdã ""o voo saiu de lá para Kuala Lumpur (Malásia) com 193 holandeses. Nas palavras do perito, a operação montada na Holanda é "fora do comum".

Os corpos dos passageiros, 298 no total, foram recolhidos pelos separatistas pró-Rússia que controlam a área dos destroços. Investigadores internacionais, inclusive os peritos, foram impedidos de chegar ao local, na região de Torez, a 70 km de Donetsk.

"O acesso à cena no primeiro momento teria sido muito importante", disse Palhares, 38, que trabalhou em acidentes no Brasil como o da Gol em 2006 e o da TAM em 2007.

O perito e outros especialistas tiveram de aguardar a chegada dos corpos em Kharkov, sob poder do governo ucraniano. "Fui lá para uma missão de diagnóstico: analisar a cena, o que era preciso para recolher os corpos com segurança e armazená-los, para depois identificar. Mas isso não foi feito. Então, só preparamos os corpos para ir para Amsterdã, onde estão sendo examinados", contou.

Para ele, porém, apesar de todos os problemas, a identificação das vítimas vai ocorrer, mesmo que leve meses. A Interpol trabalha com três metodologias: DNA, arcada dentária e impressão digital. Ele destaca o sucesso na identificação, em 2006, dos 154 mortos na queda do voo 1907 da Gol como exemplo de trabalho de identificação, o que ajudou a levar o país a presidir o grupo da Interpol.


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