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Erdogan é favorito em inédita eleição turca

Pela primeira vez, presidente do país será escolhido pelo voto direto; premiê, há 11 anos no cargo, deve vencer

Islâmico moderado, ele tem a seu favor o bom desempenho econômico, mas é julgado por ser hostil a qualquer crítica

CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA

Recep Tayyip Erdogan, 60, primeiro-ministro da Turquia, candidata-se neste domingo (10) menos a presidente da República e mais a sultão, soberano na velha tradição otomana (entre outras).

Trata-se da primeira eleição direta para presidente, até aqui designado pelo Parlamento, um cargo que Erdogan quer transformar no principal de uma república por enquanto parlamentarista.

Na segunda (4), Erdogan fez a mais explícita confissão de que não quer ser apenas um presidente para funções cerimoniais, e sim um executivo de poderes amplos.

"Os eleitores dirão que escolheram o presidente e perguntarão por que não escolheram um presidente executivo. Se faz sentido para países avançados terem em geral sistema presidencialista ou semipresidencialista, temos que dar esse salto", disse.

Não importa que sejam poucos os países avançados em que vigora o presidencialismo ou semipresidencialismo. Importa que Erdogan goza de folgada maioria nas pesquisas e, portanto, deve ser eleito, o que lhe daria aval para o "salto" que propõe.

Resta saber se Erdogan será eleito no primeiro turno ou se terá de submeter-se a uma segunda votação, contra Ekmeleddin Ihsanoglu, candidato dos dois principais partidos de oposição, os laicos do CHP (Partido Republicano do Povo) e os direitistas do MHP (Partido do Movimento Nacionalista), ou, mais improvavelmente, contra Selahattin Demirtas, da minoria curda.

O favoritismo de Erdogan se deve em parte ao bom desempenho da economia em seus 11 anos de governo (a renda per capita quadruplicou para US$ 10 mil).

Mas deve-se, acima de tudo, à identificação entre o líder e a maioria sunita, como aponta Kadri Gursel, colunista do site Al Monitor e do jornal "Milliyet":

"Os eleitores veem Erdogan como um dos seus, em termos de atitude, linguagem, vestimentas e cultura. Aos olhos dos turcos da maioria sunita da área rural, pobremente educados, tradicionalmente nacionalistas e conservadores, Erdogan é a sua materialização no leme do poder. Uma parcela esmagadora da maioria sunita vê como Erdogan transforma seu provincianismo conservador na nova norma cultural da Turquia e sua admiração por ele só faz crescer".

Eduard Soler i Lecha, coordenador de pesquisa do Centro para Assuntos Internacionais de Barcelona, é menos entusiasta, mas não deixa de reconhecer a forte personalidade do premiê: "Er­do­gan po­la­ri­za, não de­ixa ninguém in­di­fe­ren­te, ou é venerado ou detestado".

Lecha acha que houve dois Erdogan. Na primeira etapa, "caracterizou-se por notáveis avanços em matéria democrática", além do crescimento econômico. Na segunda etapa, a partir de 2011, foi "hostil a qualquer tipo de crítica e percebia qualquer ataque como parte de uma conspiração contra ele".

É nesta fase que se dão os maciços protestos do centro de Istambul, que Erdogan reprimiu a ferro e fogo.

A dúvida é saber qual Erdogan sairá das urnas, definição que importa além das fronteiras turcas. Sunita moderado, Erdogan pode servir de contraposto para os radicais que querem criar um califado (governo islâmico) em terras vizinhas da Turquia.

Se a comunidade internacional carimbar o pleito como livre e justo, consolidará a Turquia como raríssima democracia em países muçulmanos, o que não é pouca coisa.


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