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Clóvis Rossi

Desigualdade trava a economia?

Desconcentrar renda pode não ser apenas imperativo ético, mas também um fator de estímulo ao crescimento

Em vez de insistir na tese de impossível comprovação científica de que a desigualdade no Brasil caiu, o Ministério dos Assuntos Estratégicos bem que poderia testar, no país, a hipótese que acaba de ser divulgada pela Standard & Poor's, segundo a qual a desigualdade bloqueia o crescimento econômico.

Sobre a lenda da queda da desigualdade, remeto o leitor ao texto publicado em folha.com/no1478203.

Mas é preciso acrescentar dados novos, publicados neste domingo (3) pela revista "sãopaulo". Mostram que a desigualdade aumentou bastante na cidade de São Paulo. A porcentagem da riqueza paulistana que vai para os mais ricos pulou de 47,95% em 2000 para 53,68% em 2010. Os pobres viram sua fatia cair de já esquálidos 11,65% para 10,57% no mesmo período.

Como as políticas que influenciam no aumento ou diminuição da renda são nacionais e não locais, não há razão para supor que os dados relativos a São Paulo não sejam semelhantes no resto do país. Agora, Marcelo Neri, o ministro dos Assuntos Estratégicos, anuncia estudos a partir dos dados da Receita Federal para testar a sua hipótese de que a desigualdade diminuiu.

Ajudo-o com informações do leitor Wilson de Moraes Torrente, especialista em estatísticas da Receita. Torrente lembra que esses números lidam apenas com os chamados "rendimentos tributáveis" e escondem a maior fatia do que ganham os mais ricos.

Dá o seguinte e definitivo exemplo: um milionário que receba uma aposentadoria de R$ 50 mil no ano, R$ 5 milhões de lucros e dividendos, R$ 1 milhão de juros sobre capital próprio e R$ 1 milhão de ganhos em aplicação financeira, vê aparecer apenas os R$ 50 mil da aposentadoria na estatística da Receita, embora sua renda total seja de R$ 7,050 milhões.

Não é possível, portanto, deduzir nada da massa de dados impositivos, a não ser que se queira torturar os números para comprovar uma tese.

Voltemos agora ao estudo da S&P. Beth Ann Bovino, sua economista-chefe nos EUA, contou ao "Financial Times" que ficara intrigada pela debilidade da recuperação norte-americana após a grande recessão de 2008/09, a mais débil em 50 anos. Foi pesquisar e descobriu que "uma das razões que poderiam explicar esse ritmo muito lento de crescimento é a maior desigualdade de renda".

Como a desigualdade no Brasil é ainda maior do que nos EUA, mesmo para os que acreditam que ela diminuiu nos últimos anos, seria útil investigar se não está aí uma das amarras ao crescimento, ainda mais agora que os EUA estão crescendo mais do que o Brasil.

A reportagem da "sãopaulo" inclui uma frase que, a princípio, casa com o estudo da S&P: os muito ricos, ao contrário dos pobres, não jogam no consumo a renda adicional que obtêm, pela simples e boa razão que já têm tudo. Logo, não estimulam a atividade econômica.

Aqui, a consultora de marketing de luxo Stella Suskin ouviu de uma cliente que, em viagens, os biliardários só se atiram às compras se envolverem obras de arte. Não é uma coincidência a se apurar?


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