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Chineses entram em quantidade menor no PC

Filiações novas ao Partido Comunista reduziram-se em 20% no ano passado

Processo difícil de adesão e campanha contra a corrupção do governo diminuem os atrativos de ser membro

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Depois de dois anos de provas e avaliações, a universitária Rui Mengqing, 21, decidiu largar pela metade o árduo processo de adesão ao Partido Comunista chinês.

Como a maioria dos que entram no partido, o objetivo da estudante era adquirir um status que lhe daria vantagem significativa ao se candidatar a um emprego no governo ou em uma empresa estatal.

"O processo é tão longo e complicado que acabei desistindo", explicou à Folha em bom português Rui, que faz mestrado em tradução em Macau, ex-colônia de Portugal. "Ser comunista dá prestígio, mas também é preciso assumir responsabilidades."

A desistência da estudante não é um caso isolado. No ano passado, o número de novos membros do Partido Comunista chinês caiu pela primeira vez em dez anos.

De acordo com a mídia estatal, 2,4 milhões de pessoas entraram no maior partido do mundo, que terminou 2013 com 86,7 milhões de membros. Apesar de impressionante, o número de adesões foi 20% menor que em 2012.

Os motivos do declínio vão desde as dificuldades do processo ao apelo cada vez maior do setor privado para quem entra no mercado de trabalho. Mas especialistas apontam outra razão: a ampla campanha anticorrupção que se tornou a marca do atual governo chinês.

"Sejamos francos, muitos jovens querem esses empregos [no governo] porque lhes dará oportunidade de receber subornos", disse o professor de política Zhang Ming, da Universidade Renmin, ao "Financial Times".

O declínio nas adesões ao clube comunista é um efeito colateral indesejado da cruzada contra os excessos e hábitos corruptos na máquina estatal, impulsionada depois que Xi Jinping assumiu a liderança do partido, em 2012.

Mas tem servido o seu maior propósito, que é o de reordenar a estrutura de poder à imagem dos interesses políticos de Xi, afirma John Minnich, analista da consultoria Stratfor.

"A campanha anticorrupção do presidente Xi Jinping é o mais amplo e profundo esforço de expurgar, reorganizar e corrigir a liderança do Partido Comunista desde a morte de Mao Tsé-tung, em 1976", escreveu Minnich, dando números para embasar a tese. "Mais de 182 mil funcionários de todos os níveis de governo já foram investigados."

CAÇA ÀS BRUXAS

Nenhum deles chamou tanta atenção como o de Zhou Yongkan, que já foi um dos homens mais poderosos do país. Na semana passada, após meses de especulações, foi anunciada uma investigação formal contra Zhou, rompendo a regra tácita que mantinha intocáveis os ex-membros do Comitê Permanente do Partido Comunista, órgão político máximo da China.

A caça às bruxas pode assustar alguns jovens, mas milhões ainda sonham com o status de pertencer ao partido e com uma carreira de privilégios amparada pelo establishment comunista. Só os melhores alunos são selecionados para o processo.

"Cresci ouvindo que é uma honra ser comunista, por isso sempre quis ser membro do partido", diz Li Hai, 24, funcionária de um banco estatal. Atualmente ela está "sob observação", a reta final para ser aceita no partido.

Para jovens como Li, a cruzada anticorrupção não é motivo para mudar de planos. "É uma honra ser do partido, mas também sei que terei de me esforçar. Ser membro significa dar exemplo, mesmo que tenha que sacrificar meus próprios interesses", diz.

A imprensa estatal não escondeu a notícia sobre o declínio no número de novos membros, mas ofereceu uma explicação diferente. Segundo o vice-diretor das escolas do partido, Dai Yuanjun, os critérios para a entrada estão mais rigorosos.


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