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Clima pró-Gaza inflama milícia judaica

Casos de antissemitismo motivaram na França volta da Liga de Defesa Judaica, grupo radical pela 'autoproteção'

Praticantes de krav maga, jovens sionistas dão proteção a judeus e suas propriedades e pregam a ida a Israel

GRACILIANO ROCHA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Ataques a sinagogas na França, ocorridos durante manifestações contra a ofensiva de Israel em Gaza, tiraram da obscuridade a Liga de Defesa Judaica (LDJ), um grupo de autodefesa formado por jovens radicais sionistas.

A LDJ reivindica ser uma "força de proteção" contra o antissemitismo atribuído a "uma parte" da comunidade muçulmana e à esquerda. Em uma carta publicada recentemente em seu site, a organização afirma "rejeitar o mito [da existência] de um povo palestino".

O Ministério do Interior francês já confirmou que estuda a possível dissolução do grupo por causa de seus métodos violentos. Na última década, militantes da LDJ já foram investigados por cerca de cem ataques contra árabes ou judeus de esquerda.

Uma organização similar foi proscrita como terrorista nos Estados Unidos em 2001. A LDJ francesa nasceu no ano seguinte, com um ideário de extrema direita e a pregação da volta dos judeus a Israel.

Armados de bastões, muitos de seus integrantes são praticantes de krav maga --arte marcial desenvolvida pelo exército israelense.

Entre as suspeitas que pairam sobre os ultrassionistas está o incêndio do prédio da editora de um cartunista crítico de Israel, em 2011 --o que a LDJ nega. Num ato de intimidação, ativistas cobriram de tinta vermelha o corpo do escritor Jacob Cohen, um judeu antissionista, em 2012.

O cerco que promoveram nos bairros do Marais (em 13 de julho) e Sarcelles (em 20 de julho) para proteger sinagogas e lojas de judeus durante manifestações pró-Palestina rendeu à LDJ simpatia junto a uma parte da comunidade judaica, que se sente insegura na França.

A maioria dos franceses ainda guarda viva na memória a matança promovida por Mohammed Merah em 2012 (sete pessoas, três delas crianças judias).

INSEGURANÇA

"Nós amamos Israel e tentamos proteger sinagogas e estabelecimentos de judeus quando a polícia não está lá", disse à Folha, por telefone, um homem que se identificou como Itshak Rayman.

Falando em nome da LDJ em Paris, onde alega congregar 300 ativistas, o porta-voz negou que a organização aja como uma milícia. "Não temos as armas da polícia, os meios ou os direitos. Nem queremos ter. A questão é que a polícia não pode estar em todos os lugares", afirmou.

Quando se refere à tentativa de ataque contra a mesquita de Sarcelles, quando os ativistas da LDJ cantaram o hino francês durante a chegada da polícia, o porta-voz aproxima-se da xenofobia: "Nós não atacamos os policiais, eles atacam. Eles cantam o hino da Argélia, da Tunísia e do Marrocos. Nós, a Marselhesa'".

Ele afirma que a tensão entre árabes e a comunidade judaica, principalmente em bairros pobres de Paris, justifica a existência do grupo.

"Se você é rico, você mora nos bairros nobres de Paris e não há problema. Mas, se você mora no 20º Distrito ou em Bobigny, sua mulher será atacada. Seus filhos serão insultados ou vão apanhar na escola", disse, referindo-se a locais de forte imigração árabe.

Rayman afirma que a atividade mais importante da LDJ é convencer pessoas a se engajarem no Exército de Israel para defender o país. "Na França, nós não temos futuro. Quem quer usar um quipá na rua deve fechar o comércio, a casa, pegar a mulher e os filhos e partir para Israel", afirma.

O ativista busca, na memória do Holocausto, um exemplo para ironizar a rejeição à LDJ entre as organizações judaicas na França. "Em 1933, na Alemanha, havia dois tipos de judeus: o otimista e o pessimista. Os pessimistas partiram para Nova York ou para Jerusalém. Os judeus otimistas foram exterminados", disse.


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