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Diretora do FMI é indiciada pela França
Para Justiça, Christine Lagarde foi negligente ao permitir que empresário recebesse € 400 milhões de indenização
Apesar de acusação, ela afirma que não deixará o cargo no Fundo e considera o processo 'totalmente infundado'
A Justiça da França indiciou nesta quarta-feira (27) Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), por negligência em um caso de arbitragem que levou o Estado a pagar € 400 milhões (R$ 1,18 bilhão) a um empresário.
A suposta irregularidade ocorreu no período em que ela era ministra da Economia do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Caso seja condenada, ela pode pegar até um ano de prisão, além de multa.
Lagarde é acusada de assinar um documento que permitiu o repasse do dinheiro ao empresário Bernard Tapie, aliado de Sarkozy, em 2008.
O dinheiro foi um acordo para dar fim a uma ação judicial iniciada na década de 1990 entre Tapie e o extinto banco Crédit Lyonnais quando ele vendeu a empresa de material esportivo Adidas.
Além da diretora do FMI, o inquérito envolveu outros membros do gabinete de Sarkozy e o presidente-executivo da France Telecom, Stéphane Richard, assessor de Lagarde na época.
O auxiliar afirma que a chefe estava a par do assunto. Ela nega e acusa o assessor de ter usado indevidamente uma assinatura sua pré-impressa para dar aval à transação.
Investigadores tentam determinar se as conexões políticas de Tapie tiveram papel na decisão do governo de recorrer à arbitragem que deu a ele um grande pagamento.
Lagarde é indiciada um dia depois de prestar um depoimento de 15 horas na Corte de Justiça da República, responsável por investigar membros de governo envolvidos em irregularidades e corrupção.
Na terça (26), ela afirmou que apelará contra a decisão judicial, que considera "totalmente infundada".
"A comissão se rendeu à evidência de que não fui cúmplice de nenhuma infração e se limitou a alegar que não teria sido suficientemente vigilante na arbitragem".
Lagarde retornou nesta quarta (27) a Washington, sede do FMI, e negou que deixará a diretoria-geral do fundo, em que está desde 2011.
O porta-voz do FMI, Gerry Rice, disse que a francesa informará sobre o indiciamento o mais rápido possível ao Conselho de Administração do fundo que chefia.
Até agora, a direção-executiva do FMI, que representa os 188 países-membros, afirmou confiar em Lagarde para desempenhar "eficazmente suas funções".
ESCÂNDALO
O indiciamento de Lagarde acontece três anos depois que seu antecessor, Dominique Strauss-Kahn, renunciou ao cargo após se envolver em um caso de abuso sexual contra uma camareira em um hotel de Nova York.
Analistas afirmam que, caso Lagarde opte ou seja obrigada a deixar o cargo, aumentará a pressão de países emergentes pelo comando do fundo monetário.
Nos últimos anos, países como Brasil e China aumentaram sua participação nos recursos usados pela instituição. Desde sua criação, em 1944, o FMI sempre foi chefiado por europeus.