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Defesa de risco

Americana é a primeira estrangeira autorizada a advogar nos tribunais do Afeganistão

FABIO BRISOLLA DO RIO

Uma jovem afegã chamada Gulnaz foi estuprada pelo marido de sua prima. Moradora da capital, Cabul, ela procurou a polícia para denunciar o crime. Acabou presa por adultério.

No julgamento em primeira instância, foi condenada a oito anos de prisão. Em segunda audiência, o juiz ampliou a pena para 12 anos. Para escapar da condenação, tinha a opção de casar com o homem que a violentou.

"O estupro resultou em uma gravidez. Gulnaz deu à luz uma menina dentro do sistema prisional", lembrou Kimberley Motley, 39, advogada americana que passou a representar a jovem afegã em 2011.

Kimberley recorreu à Suprema Corte do Afeganistão e obteve a redução da pena para três anos de prisão. Em seguida, formalizou um pedido de clemência ao presidente do país, Hamid Karzai, que concedeu o perdão.

O caso teve repercussão internacional e marcou o início da história de Kimberley no sistema judiciário do Afeganistão. Nascida na cidade americana de Milwaukee, ela ganhou notoriedade por ser a primeira advogada ocidental a exercer o direito nos tribunais de Cabul.

"Já se passaram cinco anos e continuo sendo a única advogada estrangeira no Afeganistão", disse Kimberley, que nesta sexta (10) vai falar sobre sua experiência para a plateia do TED Global, no Rio.

Quando se formou em direito, Kimberley trabalhou por cinco anos na defensoria pública até se inscrever em um projeto temporário, que consistia em treinar advogados no Afeganistão.

Em Cabul, exerceu por um ano a função de orientadora e decidiu montar seu próprio escritório no país.

Inicialmente, a advogada representava apenas estrangeiros que enfrentavam processos criminais, como Bill Shaw, um ex-militar britânico que acabou preso sob acusação de suborno, em 2010.

No Afeganistão, Shaw trabalhava para uma empresa de segurança que atendia a embaixada britânica.

Em uma estrada de Cabul, ele acabou parado por policiais que apreenderam o veículo que ele dirigia e também outro, do mesmo modelo, que o acompanhava. Somados, os dois veículos blindados estavam avaliados em U$ 500 mil. Para conseguir liberá-los, as autoridades exigiram o pagamento de U$ 25 mil, segundo a advogada.

"Ele pagou, retirou o carros e não obteve recibo algum. Quando decidiu procurar as autoridades para falar sobre o assunto, acabou preso", disse Kimberley à Folha.

Hoje, o escritório de Kimberley atua em todas as esferas e contabiliza centenas de casos em andamento no sistema judiciário do país.

Representa, por exemplo, empresas multinacionais e ONGs com interesses no Afeganistão, além de embaixadas com presença em Cabul.

Recentemente, assumiu o caso de um repórter do "New York Times" que, após escrever um texto que desagradou ao governo, foi expulso do país. Ela conseguiu reverter a decisão. Segundo as contas de Kimberley, 25% dos casos de seu escritório estão relacionados a violação de direitos humanos de cidadãos do Afeganistão. "Atendo gratuitamente neste tipo processo."

PREÇO ALTO

Divorciada, a advogada procura viajar a cada seis semanas para ver seus três filhos que moram nos EUA.

Kimberley vive sozinha no último pavimento de um prédio de três andares situado em uma vila de Cabul. Os dois primeiros pisos abrigam seu escritório, onde trabalham cinco funcionários.

Tenta levar a vida de um cidadão local. Dirige a própria motocicleta, vai ao supermercado fazer compras e não anda com seguranças.

Em março deste ano, Kimberley estava no Serena Hotel, um cinco estrelas de Cabul, quando cinco soldados do Taleban invadiram o local.

Os terroristas entraram atirando no restaurante situado no térreo. Mataram nove pessoas e deixaram seis feridas. Por sorte, ela estava no segundo andar do hotel. Mesmo após o traumático episódio, não cogita sair do país."É muito bom ser a única advogada estrangeira do Afeganistão. E, para manter esta condição, o preço é alto."


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