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Exército acompanha votação no interior

Eleição em Achacachi, onde predomina a etnia aymara, tem apoio maciço a mais um mandato para o presidente Evo

Embora não exista evidência de fraude, presença de soldados pode ser intimidatória, afirma observadora

SYLVIA COLOMBO DA ENVIADA A ACHACACHI

"Moça, por favor, onde aqui está escrito Ramos'?", pergunta uma senhora, com a identidade na mão, à reportagem da Folha.

Como ela, vários eleitores se acumulavam na entrada do colégio Mariscal Santa Cruz, em Achacachi, cidade em que predomina a etnia aymara, no altiplano boliviano, buscando informações sobre como votar.

"Há de tudo aqui hoje, desde a falta de informações apropriadas para as pessoas que não sabem ler direito até essa presença irregular de soldados do Exército boliviano dentro do prédio", afirmou a observadora internacional Heidi Siegfried, que acompanhava a votação em Achacachi.

Os soldados, que estavam desarmados, conferiam os nomes dos eleitores e os orientavam às salas de votação. A falta de mesários também foi suprida por eles, que abriam cartazes com a imagem da cédula para explicar como votar.

"Aparentemente eles estão só ajudando, não vimos ninguém induzindo voto. Mas é irregular, e pode soar intimidatório. Não é papel do Exército", afirma a observadora Sigfried.

Achacachi, a cerca de 100 km de La Paz, amanheceu tomada pelas cores do MAS, o Movimento ao Socialismo, partido do presidente Evo Morales.

"Aqui vamos dar 90% para ele", disse Yola Uruchi, que vendia abóboras no agitado comércio de rua que se formou entre os dois pontos de votação locais.

"A nossa vida melhorou muito, vivíamos em casas de barro, não tínhamos sementes, não tínhamos médico. Os governantes brancos de antes diziam que éramos um país pobre e que deveríamos viver assim. Evo mostrou que mais do que isso é possível", concluiu o vendedor de abóboras, num sorriso que deixava ver, porém, que lhe faltavam alguns dentes.

CONFRONTOS

Antigo símbolo de resistência da etnia aymara, a cidade de Achacachi é conhecida por ter enfrentado historicamente os dominadores externos.

No século 15, foi o Império Inca, que se expandiu pela região, mas não conseguiu impor o seu idioma e a sua cultura.

Depois, durante a conquista espanhola, os aymaras lutaram para manter sua organização social e a língua, que continua a ser usada preferencialmente.

A partir da ditadura dos anos 1970, Achacachi começou a defender a independência da nação aymara. Surgiram milícias como os Colorados de Bolívia e os Ponchos Rojos, que se associaram a sindicatos de La Paz e existem até hoje.

Nos anos 1980 e 1990, eram comuns as manifestações que cortavam a estrada que une Achacachi à região metropolitana da capital, margeando o lago Titicaca.

Com a chegada de Morales ao poder, os aymaras de Achacachi dizem sentir-se representados.

"Ele é um de nós, não pode nos fazer mal. Uma coisa era ter aqui o Exército de [ex-ditador Hugo] Banzer, outra é o Exército do Estado Plurinacional da Bolívia", diz o comerciante Samuel Sanca.


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