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Depoimento
Exceto pelos taxistas, clima de gentileza e solidariedade prevalece na cidade
BARBARA GANCIA COLUNISTA DA FOLHACheguei a Nova York dia 26 de outubro decidida a aproveitar minha folga.
Comecei a perceber que minhas férias poderiam estar seriamente comprometidas dois dias depois, ao notar gente correndo para casa com mantimentos.
No dia em que era anunciada a chegada da tempestade, munida de meu espírito jornalístico e de um guarda-chuva, saí pelas ruas para ver o movimento na cidade.
O vento muito forte virou o meu guarda-chuva pelo avesso e tive que jogá-lo fora. Nas latas de lixo eles se acumulavam, destruídos. Vítimas do clima, morreram no cumprimento de seu dever.
Voltei para o hotel onde estávamos hospedados, no Soho. Na televisão, a CNN fazia desde as 14h uma contagem regressiva para a chegada da tempestade. As ruas já estavam bem vazias, parecia um filme. Só fiquei esperando o Bruce Willis aparecer.
Durante a noite, muito vento. A luz do hotel acabou por volta das 21h. Para auxiliar nossos movimentos noturnos nos entregaram aqueles bastõezinhos verdes fosforescentes que não servem para absolutamente nada.
Felizmente o hotel tinha um gerador que deixava os elevadores funcionando, nos poupando de uma escalada de 15 andares até os quartos.
Jantamos no lobby, onde um grupo de hóspedes tocava ukelele e violão. Um clima de solidariedade entre "O Destino do Poseidon" e "Titanic" pairava no ar. Quando olhei pela janela, havia um rio de água descendo a West Broadway, não muito diferente daquele que costumo ver quando abro a janela da minha casa depois de uma chuva torrencial de verão.
Nos dias seguintes, a solidariedade e a gentileza dos nova-iorquinos impressionavam. Os únicos que pareciam não ser afetados por esses sentimentos eram os taxistas. Cheguei a pagar US$ 50 (R$ 101) por uma pequena viagem com taxímetro desligado.
A vida agora vai voltando ao normal. A Gap está funcionando, quarta-feira fomos ao MoMA e o apresentador David Letterman está gravando os seus programas. Me sinto em férias novamente e, por enquanto, não quero nem saber se já existem voos de volta para o Brasil.
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