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Casamento de conveniência de rivais entra em uma nova fase

Com alta interdependência econômica, China e EUA procuram se entender sem abandonar desconfiança

RAUL JUSTE LORES DE NOVA YORK

Condenados a torcer pelo sucesso econômico do adversário, mas com altas doses de desconfiança mútua, EUA e China se estudam profundamente -enquanto tentam convencer um ao outro de suas boas intenções.

O casamento de conveniência do apelidado G2 chega a uma nova fase. Ambos defendem seus interesses de forma mais assertiva, sem dissimular.

Duas páginas de anúncio transformam todos os domingos um pedaço do "New York Times" no jornal oficial "China Daily".

"Recorde de investimentos chineses nos EUA", "Debate final entre os candidatos é mais positivo sobre a China" e "China está preparada para mais fusões e aquisições" são os títulos das "reportagens" do domingo passado.

"[Obama e Romney] reconheceram a interdependência econômica com a China e pareceram aceitar a importância para o mundo de uma relação positiva entre os dois países", dizia um dos textos, que prosseguia:

"Investimentos chineses só neste ano passam de US$ 6,5 bilhões nos EUA, criando mais 30 mil empregos".

Os filhos de 8 dos 9 favoritos a integrar o Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista, que efetivamente governa a China, estudam ou já estudaram nos EUA.

O favorito para ser o novo presidente, Xi Jinping, visitou o país em missão agrícola pela primeira vez em 1985. É um nível de compreensão inédito sobre a realidade americana na elite comunista.

O que não quer dizer adesão imediata aos valores americanos -muitos deles retornam à China e imitam o que interessa da experiência americana, mas são grandes defensores do status quo chinês, que os mantêm no topo da sociedade local.

Os EUA também não perderam tempo em estudar o rival. Cerca de 150 universidades americanas mantêm um centro de estudos da China, com programas para enviar seus professores para aprendizado no gigante asiático.

Cerca de 10 mil estudantes universitários americanos se prepararam para obter diploma de mandarim -outros 15 mil americanos estudam o idioma na própria China. Milhares de escolas pelo país já ensinam o idioma para crianças a partir de seis anos.

Do lado asiático, 150 mil chineses estudam em universidades americanas. A Academia Chinesa de Ciências Sociais, principal centro de estudos do governo, tem ao menos 400 especialistas em EUA, estudando cada aspecto econômico, cultural e legal da potência ocidental.

A atitude dos governos também mudou. Com mais de uma década de ingresso da China na OMC (mas desrespeito recorrente em temas como propriedade intelectual e subsídios), os EUA entraram com número recorde de processos de dumping contra produtos chineses neste ano.

A China tem feito acenos de que está disposta a aceitar as regras do jogo. Depois de limitar a estreia de filmes estrangeiros no país a 20 longas por ano, aceitou aumentar a cota para 36 -e acelerar a aprovação de parcerias entre grandes estúdios americanos com produtoras locais.

O país tem conhecimento de que ainda está décadas atrás dos americanos em diversas áreas -do cinema e da indústria do entretenimento à tecnologia e ao design-, então tem trocado as barreiras por mais parcerias, para talvez no futuro substituir o "Made in China" pelo "Designed in China". Até "Kung-Fu Panda", por enquanto, é ideia (e negócio) só para os EUA.

JOGANDO 'WAR'

Enquanto parecem condenados a se entender na economia e na geopolítica, os dois países continuam a mover peças do tabuleiro, como se estivessem jogando "War".

Os EUA assinaram acordos de parceira militar e nuclear com a Índia para fortalecer o grande rival regional da China, mas essa não é a única jogada de contenção.

A presença militar americana nos mares que circundam a China tem crescido, assim como a cooperação com o Vietnã, que, apesar de ter sofrido guerras com as duas potências, parece ter mais desconfiança do vizinho.

Apesar dos protestos, os EUA continuam exportando armas para Taiwan e mantendo bases militares na Coreia e no Japão.

A China tem exercitado os músculos comerciais para ganhar aliados. O país tem construído uma rede de portos no oceano Índico, pagando bem aos novos aliados, como Paquistão, Sri Lanka, Mianmar, Tailândia e Camboja.

Na economia, a desconfiança dá espaço ao pragmatismo. Enquanto não pode se sustentar só pelo mercado doméstico, a China precisa torcer por uma recuperação americana para manter suas exportações ao país.

Os chineses continuam a sustentar o enorme deficit público americano. Boa parte dos mais de US$ 3 trilhões de reservas da China está investida em dólares e em títulos da dívida americana.

Com a crise do euro e do iene, a China não tem muitas alternativas para investir seu superavit. E assim banca o vermelho do inimigo íntimo.


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