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Análise

Mudança no poder não deve afetar comércio com o Brasil

LIA VALLS PEREIRA ESPECIAL PARA A FOLHA

Algumas questões estão sempre presentes na avaliação da relação Brasil-China. A primeira é o papel do país asiático na balança comercial.

A China é o principal destino das exportações brasileiras, mas a pauta é concentrada em poucos produtos.

De janeiro a setembro, soja em grão, minério de ferro e petróleo responderam por 77% do total das exportações brasileiras para o país.

Por outro lado, os cem principais produtos chineses explicaram 41% do total importado pelo Brasil. É, logo, uma relação "assimétrica".

Nada muda com o novo governo chinês. O que pode afetar o comércio, porém, é se, por razões políticas e/ou econômicas, o crescimento do país vier a sofrer desaceleração para um índice menor que o previsto, que é algo em torno de 7% ao ano. Nesse caso, poderia ficar mais difícil para o Brasil ter superavit.

Uma segunda questão se refere à agenda de acordos comerciais. A China tem nove acordos de livre comércio, sendo três com países latinos (Chile, Costa Rica e Peru). E negocia mais cinco.

A paralisia nas negociações multilaterais na OMC, ao lado das estratégias chinesas de internacionalizar suas empresas e ganhar mercados, poderá reforçar a procura por acordos bilaterais e/ou regionais.

Não se advoga aqui que o Brasil deva fazer um acordo de livre comércio com a China, mas que procure trabalhar a sua própria agenda.

Os acordos assinados do Brasil (como membro do Mercosul) com Índia e África do Sul, considerados parceiros importantes para o país, são pouco abrangentes em termos do número de produtos.

Com os parceiros vizinhos, o aprofundamento de acordos que não sejam só via comércio de mercadorias é imperativo se o ideal da integração sul-americana continua na agenda brasileira.

Sem acordos, a concorrência com a China já faz o Brasil perder mercados de manufaturados. Com as preferências a favor da China, o quadro só piora.

Por último, um tema que foge ao escopo estrito do comércio. O crescimento da importância da China irá obrigá-la cada vez mais a expressar suas posições no debate sobre as transformações dos organismos multilaterais econômicos (OMC, FMI).

Não está claro, porém, se o novo governo irá dar maior peso ao papel dos Brics nesse debate e também à questão da cooperação Sul-Sul.

Esse é um tema relevante no desenho das estratégias futuras do Brasil no contexto mundial que deverá ser acompanhado.

LIA VALLS PEREIRA é pesquisadora do Ibre/FGV e professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.


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