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Conflito na Síria fecha aeroporto; país bloqueia internet

Combates perto de Damasco provocam suspensão de voos; regime tenta dificultar movimentação de grupos rebeldes por meio da rede

SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO

Combates entre tropas leais ao ditador Bashar Assad e grupos armados rebeldes se intensificaram radicalmente ontem nos arredores de Damasco, levando à ruptura da internet e das telecomunicações em toda a Síria.

A estrada que leva ao aeroporto da capital ficou fechada, e voos foram cancelados.

A situação expõe a força crescente dos insurgentes, que conseguiram cercar Damasco após vitórias militares e políticas e prometem em breve uma ofensiva para tomar o coração do regime.

A queda da internet foi registrada ao redor do meio-dia e confirmada por duas empresas americanas que monitoram o tráfego na rede.

Uma delas, a Renesys, disse que a Síria está desligada por completo da internet, manobra que especialistas avaliam só ser possível por decisão das autoridades, indicando aparente esforço para dificultar ações rebeldes.

Até então, a internet funcionava sem filtros, ao contrário do Irã, que bloqueia milhares de sites ocidentais.

Ativistas dizem que o regime sírio permitia liberdade on-line para identificar e caçar oposicionistas, apoiados por Turquia, monarquias árabes e potências ocidentais.

Mas o governo disse que a rede foi cortada devido à ação de "terroristas", nome do regime para se referir a grupos de oposição. Celulares e linhas fixas também ficaram virtualmente inoperantes.

A queda no sistema de telecomunicações surge num dia marcado pela escalada na guerra que se arrasta há 20 meses e já deixou 40 mil mortes, segundo ativistas.

Confrontos se concentraram ontem a leste e sul da capital, incluindo a área rural por onde passa a via expressa que leva ao aeroporto.

A pista foi fechada devido aos combates, que atingiram um comboio das Nações Unidas e feriram dois soldados austríacos em missão nas colinas do Golã.

Duas das poucas empresas estrangeiras que ainda operam na Síria, Emirates e EgyptAir, cancelaram todos os voos. Um avião da empresa egípcia que vinha do Cairo ainda pousou em Damasco, mas decolou imediatamente.

Um dos últimos aviões a conseguir decolar de Damasco ontem foi o voo RB 373 da Syrian Airlines rumo a Teerã, no qual estava a Folha.

Numa movimentação que evidenciou o nervosismo ambiente, os passageiros foram embarcados às pressas. Em minutos, a porta foi fechada, e as turbinas, ligadas. Pela janela viam-se veículos militares nos descampados de terra ao redor do aeroporto.

DETERIORAÇÃO

A Folha chegara a Damasco na quinta-feira anterior e pôde observar de perto a rápida deterioração da situação ao longo da última semana.

De sua base num pequeno hotel da Cidade Antiga, bairro cristão majoritariamente pró-Assad, o repórter ouviu o barulho das explosões aumentar e se aproximar.

Ao amanhecer da última terça, surgiram os maiores estrondos. Eram atentados com carros-bomba, presumivelmente perpetrados por rebeldes ligados à Al Qaeda, que deixaram 34 mortos num subúrbio. Muitas vítimas eram crianças que iam à escola.

Nos dias seguintes, caças do regime intensificaram seus voos sobre a cidade, em meio a rugidos às vezes seguidos de uma enorme e prolongada explosão indicando um alvo atingido. "Estamos fechando o cerco. Assad já era", disse um dos combatentes.

Apesar dos comércios abertos e da manutenção das aulas, Damasco afunda no medo. O país que até antes da revolta era tido como um dos mais seguros do mundo hoje vive uma onda de sequestros que não poupa nem trabalhadores de baixa renda. Não está claro quem está por trás.

"Nunca cogitei que meu país vivesse isso. Meu coração está partido com o fim da época em que éramos um só povo", disse um morador pró-Assad da Cidade Antiga.

Acuado, o regime encheu a capital de postos de controle e barreiras. O alvo dos insurgentes é o palácio de Assad, enorme complexo construído no alto de um morro que domina a cidade.


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