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Direitos das mulheres podem ter retrocesso, diz egípcia

Dalia Ziada, que participará de evento em SP hoje, fala de sua luta contra a mutilação genital e dos efeitos da Primavera Árabe

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

"Em 1990, quando eu tinha oito anos, minha mãe me falou para pôr meu melhor vestido de festa", lembra Dalia Ziada, 30, em depoimento no livro "Rock the Casbah", sobre a revolta que derrubou a ditadura no Egito, em 2011.

"Era para ser algum tipo de surpresa, de festa. Em vez disso, eu me vi no consultório médico. Gritei e recusei, mas ele me deu uma injeção. Acordei com uma dor terrível."

É o breve relato de sua mutilação genital. Na última quarta, atendendo à ligação da Folha ao deixar mais uma manifestação na praça Tahrir, foi ainda mais distanciada: "Eu mesma passei por FGM [mutilação genital feminina, na sigla em inglês] porque vivia numa família que segue muito as tradições. Mas, agradecidamente, foi uma motivação para iniciar meu trabalho como defensora dos direitos da mulher no meu país".

A ativista egípcia participa hoje do evento "Women in the World" (mulheres no mundo), em São Paulo, conjunto de conferências que incluirá entre as palestrantes Condoleezza Rice, ex-secretária de Estado americana.

Diz que "adoraria encontrar" a presidente Dilma Rousseff, o que não está previsto. "A América Latina em geral e o Brasil em particular têm grande experiência em dar poder às mulheres na política. E uma das minhas ambições, daqui a dez anos, é concorrer à Presidência."

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Folha - A Primavera Árabe foi um desastre para as mulheres, particularmente no Egito, como dizem alguns?

Dalia Ziada - (ri) A questão dos direitos das mulheres no Egito é muito antiga. Vivemos numa sociedade patriarcal. A Primavera Árabe trouxe esse sentimento de que as mulheres podem estar ao lado dos homens nesta sociedade. Estávamos juntos, ninguém me dizia: "Você é uma mulher". Todos estavam apenas pensando: "Você é um egípcio".

Acreditávamos que continuaria assim depois da revolução; infelizmente, não aconteceu. Mas as eleições deixaram uma marca na mentalidade patriarcal.

Mas o Parlamento discutiu derrubar a lei que impede a mutilação genital. E a assessora do presidente para questões femininas questionou a fé das mulheres que não passaram por FGM, o que chama de "cirurgia plástica". Como você vê essas manifestações?

Passei anos da minha vida lutando contra a FGM na minha sociedade. E finalmente conseguimos, só recentemente, fazer uma emenda que criminalizou a mutilação, ainda no antigo regime. Agora eles tentaram relegalizar a FGM, retirar o fato de que é crime mutilar uma menina. Estão novamente tentando nos jogar muitos anos para trás.

As declarações de direitos humanos são todas completamente contrárias. E mesmo Deus, já que estamos falando em Deus, é contra. Essa mulher não representa outras mulheres de modo algum. Conseguiu o cargo por ser da Irmandade Muçulmana.

Você está lançando uma escola de política.

Concorri ao Parlamento no ano passado. Como ativista, me treinei para derrubar a ditadura, usando ação não violenta para gerar mudança. Mas não fui treinada para praticar política. Então perdi.

Eu tenho certeza de que a razão para estarmos perdendo, e os islâmicos ganhando, é que eles têm a prática e as habilidades necessárias para saber como se organizar, como realizar campanhas.

Então eu pensei que deveríamos criar uma escola para os jovens liberais, especialmente mulheres, aprenderem a se tornar políticos. Se funcionar como planejo, terá um bom número de formandos em poucos meses, disputando diferentes cargos.

Você escreve um blog desde 2006 e também tem Facebook, Twitter. Essas ferramentas tecnológicas foram úteis?

Foram na revolução e são em todo o nosso trabalho. Mas não devemos superestimá-las. São só ferramentas.


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