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Análise
Proposta de premiê é exemplo de política feita na corda bamba
PHILIP STEFFENS DO “NEW YORK TIMES”Não há nada inevitável sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Mas a história pode bem vir a registrar que David Cameron colocou o país no curso para isso.
Não era esse seu propósito quando decidiu fazer o discurso, muito postergado, sobre o futuro do país na Europa.
Embora prometesse uma renegociação rigorosa dos termos de adesão, suas palavras foram um argumento em defesa da permanência.
Ele estava fazendo política na corda bamba -com um discurso para manter unido o Partido Conservador, cada vez mais fragmentado e cético quanto à integração europeia, e não para expressar uma visão de Estado audaciosa.
O discurso tinha elementos que não dão margem a controvérsia. Quem não quer uma Europa mais flexível e aberta, e com melhor prestação de contas, capaz de concorrer contra os melhores?
É evidente, também, que uma integração econômica mais profunda no seio da zona do euro vai exigir um novo acordo entre os países participantes e os que optarem por não usar a moeda única.
Cameron ofereceu argumentos vigorosos em defesa da manutenção. Reconheceu publicamente o que Barack Obama vinha lhe dizendo em particular -que abandonar a UE reduziria a influência de Londres em Washington, Pequim, Nova Déli e além.
Reconheceu ainda que o país tampouco poderia escapar aos impactos das decisões do continente: ele pode deixar a UE, mas não a Europa.
A esperança de Cameron é que seu discurso impeça uma ruptura histórica em seu partido comparável às acontecidas nos séculos 19 e 20. A resposta inicial foi encorajadora.
A linha dura da base conservadora, que se opõe à UE, viu positivamente o anúncio de que a decisão final caberia ao público, via plebiscito.
Resta saber se Cameron conseguiu dirimir as dúvidas a longo prazo. Por enquanto, ele resiste a apresentar exigências aos parceiros europeus. Mas é difícil imaginar que a ala antieuropeia do partido seja igualmente paciente.
A posição dos parceiros do Reino Unido é bem clara: querem que o país fique, mas se este buscar concessões que desafiem a estrutura básica da UE, seria melhor que parta.