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transição na igreja
Fiéis elogiam pontífice, mas sem emoção
Praça São Pedro tem reação contida de católicos que foram acompanhar a despedida pública de Bento 16
Havia 65 cardeais presentes, menos do total de religiosos que estará no conclave para escolher sucessor
A despedida pública do papa Bento 16 dos fiéis foi fria, ao estilo que marcou os oito anos de seu pontificado.
As cenas de emoção de 2005, quando os católicos choravam a morte do carismático João Paulo 2º, deram lugar a reações contidas, assim como a personalidade do teólogo alemão que deixa hoje a liderança da igreja.
Segundo a polícia italiana, cerca de 150 mil pessoas foram ao Vaticano para a última audiência geral de Bento 16. No entanto, a praça São Pedro ficou com espaços vazios no fundo e nas laterais.
Com a cerimônia já iniciada, a Folha flagrou organizadores pedindo a fiéis que se aproximassem para preencher espaços vazios visíveis às câmeras de televisão.
O quorum de cardeais à beira do altar também foi reduzido. A reportagem contou 65, pouco mais da metade do número de participantes do conclave que escolherá o novo papa. Isso significa que muitos abriram mão de antecipar a viagem a Roma para se despedir pessoalmente do pontífice.
Na praça, fiéis elogiavam a renúncia de Bento 16 como um ato de "humildade" e "coragem", mas se esquivavam de compará-lo com o antecessor mais popular.
"Foi um grande papa, mas é claro que não podemos compará-lo com João Paulo 2º. A igreja é como uma grande família, uns irmãos são mais calmos, outros mais elétricos", ponderou o aposentado Giuseppe Antonio.
Bandeiras de diversos países, sendo dezenas do Brasil, tremulavam a cada pausa na fala do papa. Cartazes também foram levados pelos católicos, com dizeres do tipo "não se vá", "viva o papa" ou "sentiremos sua falta".
Uma grande faixa, presa às colunas que circundam a praça, sugeria que Bento 16 não deve sentir culpa pela renúncia: "Não nos sentimos abandonados, mas fortificados. Boa missão, Santo Padre".
O raro momento vivido pela igreja, no entanto, parece preocupar alguns peregrinos.
"Fases difíceis fazem parte da história da igreja nos últimos 2.000 anos. O importante é que Bento 16 mostrou que ser papa não é levar adiante um poder, mas uma missão", disse dom Graziano, da paróquia Ognissanti, de Roma.
"É um momento muito complicado, mas unidos, com a ajuda de Deus, vamos conseguir ultrapassar os problemas e seguir em frente, como sempre fizemos", completou o estudante camaronês Idriss Tafeudong.
ÁFRICA
Ele levou ao Vaticano um tambor e, junto com amigos de outros países da África, entoou cânticos religiosos quando a audiência terminou, protagonizando o momento mais agitado da manhã de ontem.
Bento 16 apareceu para o público às 10h37 de Roma (6h37 de Brasília), a bordo do papamóvel Mercedes-Benz, placa SCV 1, no qual percorreu a praça em zigue-zague, beijando bebês e acenando para os seguidores que foram até a praça São Pedro.