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Italiano Bertone administra Vaticano até escolha do papa
DO ENVIADO A ROMADesde 20h de ontem (16h em Brasília), o governo da igreja passou para o cardeal-camerlengo, o piemontês Tarcisio Bertone, 78 anos completados no dia 2 de dezembro.
O camerlengo administra os bens, materiais e espirituais, do Vaticano, entre a morte/renúncia de um papa e a eleição de outro, o que lhe dá papel relevante no conclave e nos seus preparativos.
Em termos mundanos, seria um gestor interino da cidade/Estado. É ele quem convoca os cardeais para o conclave.
Mas nem o camerlengo nem ninguém mais pode adotar providências relativas à teologia ou nomear quem quer que seja.
Essa é uma tarefa que cabe exclusivamente ao papa.
No início do pontificado de Bento 16, Bertone era seu homem de confiança, tanto que, em 2006, ou seja, no ano seguinte à eleição de Joseph Ratzinger como papa, foi nomeado secretário de Estado, o segundo posto na hierarquia do Vaticano.
Um ano depois, seria designado camerlengo, sempre por Bento 16, como é óbvio.
Aos poucos, foram se afastando. Bertone teria atraído a ira da Cúria romana ao afastar os homens ligados a seu antecessor no cargo, o cardeal Angelo Sodano, hoje presidente da Conferência Episcopal italiana -outro polo de poder, dado que a Itália é o país que tem maior número de eleitores no conclave (28 em 116 contra, por exemplo, 5 do Brasil).
GRAMPOS
Ontem, Bertone foi alvo de acusações em reportagem da revista italiana "Panorama". O veículo afirma que há um ano telefones, e-mails e até encontros mantidos no Vaticano são grampeados por ordem de Bertone.
O grampeamento, sempre segundo "Panorama", se iniciou em setembro de 2012, "quando começaram a circular as primeiras cartas de ameaça a Bertone e ocorreram os primeiros vazamentos de documentos reservados".
"Panorama" diz que "foi lançada a mais maciça e capilar operação de interceptação jamais realizada até hoje no Sacro Palácio [a residência papal]".
Prossegue: "[A operação] continua até hoje, segundo alguns, porque, formalmente, a investigação sobre o Vatileaks não foi concluída".
Trata-se, sempre de acordo com a revista, de "uma colossal vigilância de hábitos, amizades e encontros", cujos resultados "foram entregues em mãos a pouquíssimas pessoas, e que deixam nervosos e preocupados muitos prelados e ameaçam pesar sobre o conclave".
Padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse ontem que a informação não tem o menor fundamento, mas a revista, em seu on-line, reafirmou tudo que publicou na versão impressa. (CR)