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'Peregrino', Bento 16 se recolhe em cidadezinha
Última fala como papa foi feita de janela em palácio de Castel Gandolfo
Pontífice foi saudado por mais de 6.000 fiéis que aguardaram sua aparição na única praça da cidade perto de Roma
Assim que a guarda suíça deixou a residência de verão do papa na minúscula Castel Gandolfo, o portão que dá para a única praça da cidadela se fechou e a bandeira papal foi retirada do mastro. Naquele momento, Bento 16 deixava de ser papa e entrava para a história.
Sua chegada foi esperada por mais de 6.000 pessoas, que lotaram a cidade, com pouco menos de 9.000 habitantes. A Folha passou o dia lá e presenciou, logo abaixo da sacada, a emoção dos fiéis que foram ver a última aparição pública do agora papa emérito.
E ele apareceu. Quebrando o protocolo estabelecido nos dias anteriores, fez uma saudação que não durou mais do que três minutos.
"Obrigado por sua amizade e afeto. Vocês sabem que hoje é um dia meu diferente daqueles anteriores. Eu só serei o sumo pontífice da Igreja Católica até as 20h. Depois disso não serei mais, serei simplesmente um peregrino que começa a última etapa de sua peregrinação por essa terra", disse Bento 16, sob aplausos e gritos dos presentes.
Afirmou novamente que seguia em frente "para o bem da igreja e do mundo".
Bento 16 seguirá em Castel Gandolfo pelos próximos meses, até que o mosteiro em que viverá, dentro do Vaticano, seja reformado.
A cidade que o acolhe tem uma relação com os papas desde 1628, quando Urbano 8º passou a frequentar a vila de mais de 50 hectares, localizada no topo de um monte à beira do lago albano.
Ontem, fiéis de todas as partes da Itália e do mundo começaram a chegar e reservar espaço para ficar o mais perto possível da janela em que ele apareceria.
Um grupo de cinco casais brasileiros apareceu. Por coincidência, eles começariam ontem um encontro de casais católicos, marcado há mais de seis meses, exatamente em Castel Gandolfo.
Ao final, com os olhos marejados, Marcos Nunes, de Alagoas, observou: "Muito bonito, mas foi tão rápido. Acho que ele se segurou. Deve estar chorando agora". (FELIPE SELIGMAN)
