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Análise
Sucessor designado em Cuba tem perfil de administrador
Desafio é reformar economia sem perder o controle da liberalização
Em 1960, quando Miguel Díaz-Canel nasceu, Fidel Castro já governava Cuba havia um ano.
O presidente Juscelino Kubitschek governava o Brasil com o Rio de Janeiro como capital e Helô Pinheiro não havia inspirado ainda "Garota de Ipanema".
Por mais de cinco décadas, os irmãos Fidel e Raúl Castro resistiram ao embargo norte-americano de 11 presidentes, de Dwight Eisenhower a Barack Obama.
Mas contra o calendário não existem vitórias. Em 2006, a doença de Fidel Castro forçou a primeira transição na liderança cubana desde 1959. Raúl, de 76 anos na época, substituiu a Fidel, que tinha quase 80.
A mudança teve consequências relevantes.
Ante a perda da liderança carismática de Fidel, o Partido Comunista Cubano iniciou processos de reforma econômica e liberalização política com o objetivo de reconstruir sua capacidade para governar nas novas condições.
Nos últimos cinco anos, o governo criou importantes bases institucionais para a transição a uma economia mista e a uma relação pós-totalitária entre o Estado e a sociedade civil.
Com a eleição do novo Conselho de Estado em Cuba no domingo passado, começou a última fase da transição à era pós-Castro.
Raúl foi reeleito à Presidência, mas pela primeira vez um líder nascido após a revolução de 1959, Miguel Díaz-Canel, aparece como segundo na escala de poder.
Se se examina o Partido Comunista como uma corporação, Díaz-Canel é uma espécie de "manager" que já esteve nas diferentes partes da linha de montagem.
Trabalhou na base como professor universitário e dirigente juvenil, e depois em duas estratégicas Províncias, onde dirigiu a implementação de reformas econômicas e a abertura ao investimento estrangeiro e turismo.
Ele é parte da rede de czares provinciais do partido, um grupo da maior importância na implementação das reformas propostas, particularmente a descentralização.
Por haver trabalhado no centro e no leste de Cuba, tem vínculos cordiais com os comandos regionais das Forças Armadas, o outro pilar, junto do Partido Comunista, do sistema cubano atual.
Se Cuba implementar o tipo de economia mista e estabelecer a nova relação com os cubanos no exterior e com o mundo proposta no programa do Partido Comunista, também vai se transformar politicamente.
A ascensão de mecanismos de mercado e um setor não estatal autônomo reforçarão os novos fluxos pluralizadores de informação e investimento tecnológicos.
Para se manter no comando da mudança econômica e social, o sistema de partido único terá que se reformar.
A liberalização política provavelmente começará nos níveis inferiores, permitindo aos cidadãos ventilar suas frustrações.
As pressões poderiam aumentar na medida em que a economia tome vigor.
Um mercado cubano dinâmico abriria os apetites empresariais americanos e colocaria em questão o embargo americano contra a ilha.
Se terminar essa relíquia da Guerra Fria, aumentariam também as demandas democratizadoras.
No próximo quinquênio, o desafio central para os líderes cubanos é ter a audácia, a criatividade e a autoconfiança para acelerar a reforma econômica, sem perder o controle da liberalização política em curso.
ARTURO LÓPEZ-LEVY é coautor do livro "Raul Castro and the New Cuba" (McFarland, 2011). @turylevy