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Sob sol forte, multidão segue cortejo do presidente pelas ruas de Caracas

Despedida mesclou momentos alegres e solenes; caixão escoltado estava ao alcance de eleitores

Enterro será amanhã em Caracas, com a presença de chefes de Estado como a presidente Dilma

DA ENVIADA A CARACAS

"Uma saudação à sua presidente [Dilma]. Ela se salvou do câncer, mas o meu presidente não", disse Esperanza Zuloaga, e caiu no choro de novo, abraçada num boneco de Hugo Chávez, um "chavecito" ao estilo Falcon, vestido com uniforme militar.

O cortejo multitudinário com o corpo de Chávez, morto anteontem, passara diante de Esperanza momentos antes em uma avenida do oeste de Caracas, parte do trajeto de 10 km até a Academia Militar do país transmitido em cadeia nacional de TV por mais de sete horas.

"Temos de entender as decisões de Deus. Muita gente não agradece o que Chávez fez. Isso é para que a gente aprenda", interpretava ela, uma motorista de 52 anos.

Como Esperanza, muitos dos que seguiam o cortejo, sob sol forte, pareciam buscar ainda uma explicação para o desaparecimento de Chávez. Acreditaram, até o último momento, que o "comandante dos mil milagres" se conseguiria se livrar da doença que combateu por quase dois anos.

"Quando ele voltou de Cuba, pensei que ia ser um 13 de abril", disse Adela Silva, moradora do bairro de Cátia, um bastião chavista.

Adela se referia ao golpe frustrado contra Chávez em 2002. Em 13 de abril daquele ano, o presidente retornou ao cargo -ele comemoraria ano após ano como uma ressurreição ungida pelo povo.

O cortejo fúnebre, que começou no Hospital Militar de Caracas, arrastou dezenas de milhares de pessoas, mesclando momentos alegres, com as músicas de campanhas de Hugo Chávez, e solenes e comoventes, quando, no chão, ou nas sacadas dos prédios, militantes vestidos entoavam o hino nacional.

O "Uh! Ah! Chávez não se vá!" popularizado nos 14 anos do chavismo, ganhou uma variação "Uh!, Ih!, Chávez está aqui" quase sempre acompanhado de "Chávez vive/La lucha sigue".

A marcha vermelha não teve a apoteose do último ato de massas de Chávez, o comício de encerramento de campanha de outubro passado.

O esquerdista, inchado e aparentando cansaço, discursou sob chuva num dos sete palcos montados no centro de Caracas e depois desfilou em caminhão.

Ontem, o carro fúnebre simples, com o caixão acima, escoltado pela Guarda Nacional, estava ao alcance para que os eleitores de Chávez lançassem flores, camisas, objetos. À volta, gritavam palavras de despedidas. Centenas se empurravam pelo melhor ângulo para registrar com o celular.

À frente da comitiva, o vice e herdeiro político, Nicolás Maduro, caminhou durante todo o trajeto, focado pela TV _para opositores no Twitter, um ato ilegal de campanha. Ao lado iam o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, e o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Numa van imediatamente atrás seguia a família de Chávez. A mãe, os irmãos de Chávez, as filhas e seus netos.

Numa das janelas, o neto mais citado por Chávez, Jorge Alejandro, "el gallito", de cinco anos, ia no colo do pai, o ministro da Ciência e Tecnologia, Jorge Arreaza, mirando sério a multidão, que o reconhecia.

Certa hora, um carro de som começou tocou uma gravação hino nacional cantado por Chávez, acompanhado pela multidão.

CAIXÃO ABERTO

Na Academia Militar, o caixão foi aberto numa cerimônia para familiares, governistas e militares, com as presenças também dos presidentes Cristina Kirchner (Argentina) e José Mujica (Uruguai). A TV oficial não fez close. O local seria aberto ainda ontem à visitação pública.

O enterro, com a presença da presidente Dilma Rousseff e outros chefes de Estado, deve ocorrer amanhã de manhã.

Ontem, alguns chavistas sugeriram que seu corpo seja sepultado no Panteão Nacional, onde estão Simón Bolívar (1783-1830), herói de Chávez, e outros ilustres -ao longo da marcha, havia pichações nos muros: "Chávez ao Panteão".

Conceder a honra é uma decisão da Assembleia, mas a Constituição fala que é preciso esperar 25 anos após a morte para ocorrer o traslado. O governo disse que é a família de Chávez quem decidirá o local do enterro. (FLÁVIA MARREIRO)


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