Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Portas viram alvo de balas

Por SARAH MASLIN NIR

Um mesmo tom de marrom colore todas as portas dos apartamentos do terceiro andar de um grande edifício no Polo Grounds Towers, complexo habitacional público no Harlem. Todas menos uma no final do corredor, pintada de vermelho vivo. A tinta fresca não esconde por completo as marcas das balas disparadas contra a porta dois meses atrás.

Uma mão de tinta passada sobre buracos de balas, alguns remendos metálicos e uma porta nova em folha em um corredor em que todas as outras portas estão decrépitas: sinais da violência nos corredores do conjunto habitacional mais perigoso da cidade.

Embora o fenômeno seja pouco conhecido fora dos conjuntos habitacionais públicos, essas portas viraram alvos por meio dos quais, com a ajuda de uma bala estrategicamente disparada, uma disputa é levada a público, um inimigo é avisado ou a atenção da polícia é chamada para um bandido de uma quadrilha rival.

Apesar de assustadores, os disparos são vistos por muitos moradores como um mal menor, porque os pistoleiros normalmente não têm o objetivo de matar. Eles sabem que as portas dos apartamentos dos conjuntos públicos são feitas de materiais normalmente resistentes a balas.

Mas o impacto das balas pode ser sentido mesmo assim.

Por trás da porta vermelha do apartamento no Polo Grounds, uma garota que revelou apenas sua idade -15 anos- se negou a receber a reportagem.

Protegida pela porta trancada e por uma corrente, ela disse estar preocupada com sua segurança, apesar de acreditar que sua porta tenha sido alvejada por engano. "Foi chocante", comentou. "Mas veja onde estou. No conjunto habitacional."

De acordo com dados da polícia, 318 pessoas levaram tiros em conjuntos habitacionais públicos de Nova York em 2012. Mas as autoridades não contabilizam os casos de tiros disparados contra portas.

Em Ocean Village, um conjunto habitacional de padrão misto na seção Queens de Nova York, os casos de portas com marcas de balas são tão frequentes que um dos funcionários que cuidam da manutenção do prédio tem um álbum de fotos das portas em seu smartphone.

John A. Eterno, capitão de polícia aposentado, falou que as portas viraram alvos por gerarem o sentimento de vulnerabilidade.

"Quando o disparo é contra a porta da frente da sua casa, isso intimida muito. Quem é ameaçado não é apenas você, mas sua família e as pessoas com quem você vive", explicou.

Len Johnson vive no complexo habitacional público Jefferson Houses, no Harlem. Ele explicou a situação: "É como se estivessem dizendo 'o que eu fiz na sua porta posso fazer com você'. É uma mensagem contundente. É um jeito de dizer algo sem ser em palavras".

Para o chef Matthew Bentil, 22, que vive no Bronx, às vezes os tiros visam atrair a atenção da polícia. Rivais trocam disparos para atrair a atenção das autoridades para um apartamento onde o alvo de seu ódio pode se encontrar. Os policiais que atendem a uma ocorrência de tiros disparados contra uma porta podem encontrar motivos para prender o morador do apartamento.

Feitas de madeira revestida de uma camada metálica, as portas dos apartamentos em conjuntos habitacionais públicos são capazes de sustar a passagem de balas, mas não são à prova de balas.

Numa noite de janeiro passado, um adolescente atirou contra a porta de um apartamento no segundo andar de um prédio habitacional público no Bronx.

De acordo com a polícia, os tiros foram disparados devido a uma disputa entre o atirador e uma jovem que vivia no apartamento.

A maioria dos projéteis se alojou na porta, mas pelo menos um deles a atravessou, atingindo o irmão mais novo da moça, Ryan Aguirre, no estômago. O ferido tinha 11 anos de idade. Ele sobreviveu, mas a família se mudou.

Colaboraram Joe Goldstein e Nate Schweber


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página