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Ensaio - Dennis Overbye
A época do ano em que o Mundo acaba
Razão científica é suspensa em filmes de apocalipse
O verão de Hollywood chegou, assim como o fim do Mundo. De novo.
Os cinéfilos são atraídos para filmes apocalípticos há décadas, ou pelo menos desde 1951, quando, em "O Dia em que a Terra Parou", Patricia Neal tinha de dizer as palavras imortais "Klaatu barada nikto" para impedir que um robô alienígena destruísse o Mundo e todos nós por causa de nossos modos beligerantes.
Em um dos lançamentos deste ano, "Oblivion", alienígenas explodiram a Lua e os humanos se mudaram para Titã, uma lua de Saturno. Sob a supervisão de uma assustadora controladora da Nasa chamada Sally, Jack Harper, interpretado por Tom Cruise, cuida de máquinas deixadas para trás para produzir energia e projetá-la para um posto avançado gigantesco no céu, parecido com a estrela da morte e conhecido como Tet.
Ao investigar o pouso forçado de uma misteriosa espaçonave contendo humanos na Terra desolada, ele é capturado por um assustador bando subterrâneo de rebeldes, liderados por Morgan Freeman.
Em "Depois da Terra", Will Smith e seu filho Jaden caem na Terra considerada inóspita para humanos, mil anos depois de um cataclismo. Enquanto isso, tudo no planeta evoluiu para matar humanos. O filho, Kitai, tem de viajar pelo planeta sozinho para conseguir um sinalizador de alarme.
É claro que esses filmes não são sobre o fim do Mundo. O apocalipse é apenas o palco onde seres humanos seguem seus destinos pessoais com a ajuda de efeitos especiais e alguma suspensão da razão científica.
No fundo, "Depois da Terra" é apenas uma história de pai e filho sobre um jovem ousado que tem de aprender a confiar em seu pai e a controlar suas emoções se quiser evitar ser morto por um alienígena que pode localizar humanos pelo cheiro de seu medo. "O perigo é real", diz o slogan no cartaz. "O medo é uma opção."
"Oblivion" se passa em 2077, 60 anos depois que alienígenas invadiram a Terra e tiveram de ser combatidos com armas nucleares, deixando o planeta inabitável. Cruise, cuja memória foi apagada (como precaução de segurança, dizem-lhe), tem de aprender a confiar em Freeman -o que você sempre deve fazer, é claro- e descobrir por que a mulher que acaba de cair na Terra é a mesma que vem aparecendo em seus sonhos do edifício Empire State.
Não vai estragar o suspense dizer que, com a tutelagem de Freeman, nosso herói vai descobrir que tudo o que ele sabia sobre si mesmo e a história recente está errado.
"Depois da Terra" foi sonhado por Will e Jaden Smith como uma maneira de trabalharem juntos. No caminho, eles criaram uma história de fundo de 300 páginas que descreve como os seres humanos arruinaram o planeta e afinal foram obrigados a deixá-lo por causa do ar poluído, do clima severo, dos tsunamis e dos terremotos.
Você poderia se perguntar, como fiz, o que os humanos têm a ver com tsunamis e terremotos. Quando perguntei ao diretor, M. Night Shyamalan, sobre isso, ele disse que tinha a ver com "uma alma" por trás de tudo. "Gaia está nos rejeitando."
Curiosamente, a Terra mil anos depois parece tanto um jardim do Éden quanto um inferno, com árvores gigantescas, cachoeiras vertiginosas e uma vida silvestre prodigiosa que mata e devora alegremente na habitual maneira darwiniana. É só o medo humano que tornou o lugar perigoso, disse Shyamalan.
Assim, a Terra suporta. Mas o Mundo não. O Mundo, para parafrasear a poeta Muriel Rukeyser, é feito de histórias, não de átomos -nem de vetores de doença ou de relações entre predadores e presas. Assim, ele está sempre acabando e renascendo. Cada morte é o fim de um Mundo e cada divórcio o colapso de uma cosmologia.