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New York Times

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Gastronomia ganha nicho cinematográfico independente

Por ROBERT ITO

LOS ANGELES - As cineastas Natasha Subramaniam e Alisa Lapidus passaram quatro horas construindo uma sobremesa em quatro camadas feita de chantilly, cookies de amaretto, suspiro e flores comestíveis. "É um misto de pavlova e 'croquembouche'", explicou Subramaniam.

Enquanto Lapidus posicionava rodelas de suspiro do tamanho de pires sobre a sobremesa mais e mais alta, Subramaniam fazia fotos de cada camada. As fotos seriam editadas juntas, formando uma sequência em "stop-motion".

Então, inesperadamente, a montanha começou a ruir, com a camada inferior de chantilly cedendo sob o peso das rodelas de suspiro e dos cookies.

Se a filmagem fosse comercial, a sobremesa provavelmente teria sido descartada, e uma nova teria que ser preparada. Mas as duas diretoras formadas pelo California Institute of the Arts não estavam fazendo um comercial -estavam rodando um filme, "Bloem", sobre a vida, a morte e o consumo dessa sobremesa por comensais que não chegam a ser vistos.

Em outras palavras, é um filme de arte. Logo, um pouco de chantilly fora do lugar não é problema.

Onde pode ser exibido um filme sobre a vida e a morte de uma sobremesa enorme? Em um entre os muitos festivais e eventos de cinema espalhados pelos EUA dedicados a tudo o que existe de mais divertido e delicioso na comida (e que se danem as calorias).

Não são filmes que mostram como a comida que você consome pode matá-lo (como faz o documentário "Forks Over Knives"), contaminar o ambiente ("Food, Inc.") ou, ainda, fazer você se sentir péssimo ("Super Size Me").

Ao contrário, são pequenas odes cinematográficas à comida, com títulos como "Sushi, Handcrafted Happiness" e "Bark Butter: Why Every Hot Dog Needs a Little More Pork Fat".

"Não exibimos filmes com uma mensagem, nem nos envolvemos na polêmica da bronca", explicou George Motz, diretor de eventos do Festival de Charleston (Carolina do Sul) de Cinema Gastronômico. "O que fazemos é celebrar a comida e quem a prepara. Passamos por cima das partes negativas."

O festival é descendente direto dos festivais de cinema gastronômico de Nova York (que está em seu sétimo ano) e de Chicago, este promovido desde 2010. Os três são comandados por Motz.

Ao longo dos anos, festivais e eventos únicos semelhantes vêm surgindo em vários pontos dos Estados Unidos.

Entre os filmes que estão no circuito dos festivais agora, há dois documentários. O primeiro, "Ramen Dreams", é sobre um louco por miojo em Los Angeles que abre um restaurante de macarrão japonês em Tóquio. O segundo, "Mr. Okra", trata de um morador de Nova Orleans que vende frutas e verduras em sua picape.

Um curta de 98 segundos, sem narrativa, foca a criação de um sonho de laranja e pistache.

Intitulado "The Benevolent Baker: Doughnuts", com direção de Scott Pitts, fotógrafo culinário comercial, o curta capta closes maravilhosos de um chef peneirando farinha, ralando uma laranja e abrindo rodelas de massa.

Em outro filme de Pitt, "The Benevolent Butcher: Bacon", uma fatia de bacon é enrolada em volta de um filé de lombo, depois colocado numa frigideira para fritar em azeite e em seu próprio sumo gorduroso.

Como Pitts avalia o sucesso de um filme? "Se você assiste ao filme e pensa 'estou com muita vontade de comer um filé enrolado em bacon', então o filme funcionou", responde o diretor.

Mas outra diretora, Liza de Guia, sempre se interessou mais pelas pessoas que fazem a comida. Depois de trabalhar em vários empregos locais de televisão em Nova York, Guia sonhou em criar um seriado na Web sobre produtores e vendedores de comida que fossem pouco conhecidos.

A partir de 2008 ela propôs a ideia a "praticamente todos os blogs de comida da cidade" -e foi rejeitada por todos.

"Então tive uma ideia inteligente", prosseguiu. "Pensei 'por que estou esperando para receber permissão para fazer algo que quero fazer?'."

Em 2009, ela filmou um vídeo de três minutos sobre pessoas que plantavam hortas em telhados do Brooklyn e o postou no YouTube, onde ele rapidamente virou viral.

Em seguida, Guia fez vídeos sobre apicultores urbanos, criação de patos em pequena escala e sorvete sustentável, postando-os em seu próprio site recém-criado, o Food Curated.

Seis meses mais tarde, ela foi indicada para o prêmio James Beard de melhor vídeo-webcast.

Em 2012, após várias outras indicações ao Beard, ela foi escolhida como cineasta do ano no Festival de Nova York de Filmes Gastronômicos.


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