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New York Times

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Artista incendeia casa para homenagear arquiteto

Por MICHAEL TORTORELLO

ST. PAUL, Minnesota - No início deste mês, Chris Larson ateou fogo à casa de Chad e Kate Bogdan. Ou, melhor, a algo que se parecia muito com ela. O ambiente era festivo, e um grupo improvisado acompanhou o evento cantarolando "We Didn't Start the Fire".

Foi o evento cultural Northern Spark, promovido em 1° de junho desde o pôr do sol até o amanhecer do dia seguinte. A atração principal da edição deste ano foi a queima da casa.

A construção não deveria ter queimado em tão pouco tempo. Ela era uma das cem residências projetadas pelo célebre arquiteto da Bauhaus Marcel Breuer, que mais tarde criaria o Museu Whitney de Arte Americana.

Breuer fez questão de especificar materiais não combustíveis: blocos de concreto branco para as paredes e ladrilhos de cerâmica vermelha para os pisos.

O que foi consumido pelo fogo não foi a casa real criada por Breuer, mas uma réplica construída por Chris Larson a partir da planta original de 1961. Larson fez as paredes e o telhado com papelão e tachas, completando o trabalho em um mês.

Por que alguém escolheu clonar uma residência tão distinta, apenas para destruir o que produziu?

"É um gesto", explicou Larson, 46, professor de arte na Universidade de Minnesota. Ele certa vez bateu um modelo de madeira do carro Dodge Charger ano 1969 do seriado "The Dukes of Hazzard" contra uma réplica da cabana do Unabomber. Também já convenceu um grupo familiar de gospel, Spiritual Knights, a posar em volta de uma mesa de jantar, recriando a capa de um álbum de gospel de Mahalia Jackson. Então pôs a sala e a casa em que ela estava para flutuar sobre um lago vazio.

Larson explicou que a demolição libera a energia presa dentro dos materiais. "Existe um potencial nesse ato", disse.

Emigrado judeu da Hungria, Breuer projetou a casa em St. Paul como favor a um artista litúrgico católico, Frank Kacmarcik. Mas a casa foi ignorada nos livros sobre o arquiteto. A queima de sua réplica representou para seus proprietários atuais, os Bogdan, uma oportunidade de chamar a atenção para ela.

Na véspera da queima, espectadores cercaram o perímetro da casa numa espécie de procissão fúnebre, tocando as paredes de papelão e posando para fotos. Mas esse público não estava exatamente chorando a morte do modernismo. Sarah Kesler, 42, de Minneapolis, comentou: "Graças a Deus vão queimar esta casa. É feia e deprimente."

Larson passou algum tempo ajudando sua equipe de amigos e estudantes de arte a abrir buracos de ventilação nas paredes e no teto. Depois, fechou-se em um quarto pequeno. "Eu queria que pudéssemos fazer isso sem o público."

Um assistente o procurou para perguntar onde deveria colocar os primeiros catres de madeira, para ajudar o fogo a começar. "Comece pelo quarto das crianças", disse Larson.

O decorador Forest Lewis, que ajudou Larson, comentou: "É um espetáculo. Mas, como é a criação de Breuer" -ou seja, um santuário para as revistas de decoração e interiores- "acho que tem a ver com idolatria, em algum nível."


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