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New York Times

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Outsider da música conquista reconhecimento dos pares

Por BEN SISARIO

O compositor e saxofonista John Zorn, durante décadas uma das figuras mais prolíficas e polarizadoras do cenáriomusical do downtown nova-iorquino, estava sentado em silêncio no átrio do museu Guggenheim, em junho, aguardando o início de um show do Zorn@60, festival mundial de comemoração de seu 60°aniversário.

O festival, que continuará até setembro em templos de alta cultura, como o Museu Metropolitano de Arte, celebra Zorn como grande compositor americano cuja obra atravessa praticamente todas as fronteiras estilísticas possíveis: jazz, clássico e klezmer, em registros que vão do cáustico ruidoso ao doce e lírico.

Mas, se existe algo que possa definir Zorn e seu trabalho, é sua postura de outsider renhido -mesmo em um momento em que é aceito. Ele construiu uma carreira influente seguindo suas próprias inspirações. Nos últimos três anos, lançou mais de 30 álbuns de trabalho original por seu próprio selo.

"O que acontece quando você chega aos 60", comentou, "é que não tem mais dúvidas. Eu sei por que estou aqui neste planeta. Sei o que preciso fazer."

O concerto no Guggenheim teve duas obras sinuosamente belas para vocais femininos, com textosmísticos e ecos da polifonia do século 14. Tudo muito distante dos híbridos tresloucados de jazz, thrash e trilhas sonoras de filmes B que levaram Zorn à fama nos anos 1980, comálbuns como "The Big Gundown" e "Spillane" e com sua bandaNaked City.

George E. Lewis, professor de música na Universidade Columbia, em Nova York, e trombonista que já tocou com Zorn, comentou que essa "abertura extrema a ideias novas" liga Zorn tanto à vanguarda do jazz quanto ao compositor John Cage. "Os jazzistas da primeira época sempre recomendavam que se ouvisse tudo", explicou Lewis. "John interpretou isso literalmente."

Devido a essa abertura, porém, Zornpermaneceunasmargensde vários mundos musicais. Os críticosde jazz ficaramespecialmente escandalizados comálbuns como "Spy vs. Spy" (1990), com obras de Ornette Coleman tocadas com a intensidade frenética do punk hardcore.

Para manter sua produção, Zorn adotou uma disciplina rígida. Ele vive sozinho no mesmo apartamento desde 1977 e trabalha constantemente, eliminando distrações como revistas, televisão ou pessoas.

"As pessoas só vão entender o que estou fazendo depois que eu estiver morto", disse.

"Em última análise, as pessoas do mundo acadêmico ficammais tranquilas quando seus objetos de estudo estão mortos, porque então eles não vão de repente fazer algumacoisa que mostre que a conclusão de suas pesquisas está equivocada."

Zorn voltou a falar da colaboração, que, para ele, é essencial à própria composição. "O trabalho docompositorécolocar algonuma folhadepapelqueinspireapessoa que está tocando", ponderou.

Para divulgar suamúsica e a de outros, Zorn tem seu selo próprio, Tzadik, que desde 1995 já lançou mais de 600 álbuns (cerca de 150 dos quais coma música dele).Em 2005, ele fundou o Stone, clube no East Village onde os músicos compartilhamo trabalho de marcar os shows e ficamcom100%da bilheteria.

Zorn disse que o início de sua vida profissional foi marcado por uma ânsia "messiânica" de se destacar. Essa ânsia perdeu força desde então. O projeto musical Masada, que ele lançou no início dos anos 1990, serviu como ponte.

O Masada explorou suas raízes e ampliou a ideia da música judaica, comum "songbook" ligando o klezmer ao jazz.

Zorn escreveu suas primeiras melodias seguindo diretrizes rígidas: cada uma tinha que caber numa pauta, sobre uma página.

Mas, quando revisitou o Masada, dez anos depois, ele tinha encontrado "a coragem de escrever uma melodia bonita", e mais de 300 canções surgiram em poucos meses.

"Antigamente eu via a composição musical como resolução de problemas", contou. "Mas, à medida que envelheço, ela está deixando de ser isso. Não há soluções, porque não há problemas. É só abrir a torneira para a músic sair jorrando."

Omundo está alcançando Zorn. A estética de ordem aleatória da década passada ecoa o ecletismo de John Zorn nos anos 1980, e o autodeterminismo dele virou a norma.

À pergunta de se algum dia pode surgir outro como ele, Zorn responde: "Acredito que haverá muitos outros. Esse é um novo jeito de fazer música -não apenas focando a especialização, mas buscando ter amigos e conexões em toda parte."


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