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New York Times

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Diminui mutilação genital na África e no Oriente Médio

Por CELIA W. DUGGER

Um novo e abrangente levantamento sobre a mutilação genital feminina constatou um declínio gradual, mas importante, da prática em muitos países, mesmo em nações onde ela está profundamente enraizada.

Hoje, adolescentes têm menos chances de terem sido mutiladas que as mulheres mais velhas em mais de metade dos 29 países da África e do Oriente Médio onde a prática se concentra, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No Egito, por exemplo, onde existe mais mulheres mutiladas do que em qualquer outro país, dados da pesquisa indicam que 81% das meninas de 15 a 19 anos passaram pela mutilação, porcentagem que sobe para 96% no caso das mulheres no final da casa dos 40 anos.

Os autores do relatório dizem que os declínios ainda incipientes podem pressagiar mais mudanças geracionais.

Em quase metade dos 29 países, as mulheres jovens têm menos probabilidade de apoiar a prática que as mais velhas. A diferença é especialmente nítida no Egito: apenas um terço das adolescentes acha que a prática deve continuar a existir, contra quase dois terços das mulheres mais velhas.

A Unicef estima que mais de 125 milhões de meninas e mulheres já tenham passado pela mutilação e que 30 milhões de meninas correm o risco de ser mutiladas nos próximos dez anos. Divulgado em julho, o relatório é o primeiro em que a Unicef avaliou a mutilação entre todas as faixas etárias nos 29 países em que ela é praticada.

O relatório anterior da organização, de oito anos atrás, foi baseado em 30 pesquisas feitas em 20 desses países. O novo estudo inclui 74 pesquisas realizadas em 29 países ao longo de duas décadas.

O relatório revela que o progresso do combate à mutilação genital feminina vem sendo lento e desigual. Além disso, traça um retrato dos países em que a prática ainda é amplamente disseminada. Além do Egito, onde 91% das mulheres na faixa dos 15 aos 49 anos passaram pela mutilação, os países com as porcentagens mais altas são Somália (98%), Guiné (96%), Djibuti (93%), Eritreia e Mali (89% cada) e Serra Leoa e Sudão (88%).

A Unicef constatou a queda mais marcante no Quênia, um dos países africanos mais desenvolvidos, e, surpreendentemente, na República Centro-Africana, um dos mais pobres.

Os pesquisadores acreditam que a prática começou a perder força nesses dois países quatro a cinco décadas atrás. Segundo eles, o progresso faz sentido no Quênia, onde os esforços para combater a mutilação genital feminina começaram no início do século 20. Eles não sabem explicar a razão da queda na República Centro-Africana, de 43%, em meados dos anos 1990, para 24%, em 2010.

Os especialistas se decepcionaram por não ter sido detectado nenhum declínio importante no Senegal. Lá, existe um movimento social com o apoio da Unicef para pôr fim à mutilação. Cappa disse que a surpresa real, no caso do Senegal, foi o fato de que a prática não diminuiu notavelmente entre mulheres e meninas.

Em todos os países pesquisados, uma em cada cinco mulheres e meninas genitalmente mutiladas passou pela forma mais severa. Esta geralmente envolve a mutilação e costura dos lábios vaginais, quase cobrindo a uretra e a abertura vaginal, que precisa estar aberta mais tarde para possibilitar as relações sexuais e o parto.

Uma tendência à prática de formas menos radicais de mutilação genital vem ganhando força em alguns países, incluindo o Djibuti, onde 83% das mulheres na casa dos 40 anos relatam ter passado por infibulação -a costura dos lábios genitais-, contra 42% das meninas de 15 a 19 anos.

A mutilação genital abrange práticas diversas que chegam à amputação total da genitália externa, incluindo o clitóris. A prática pode reduzir o prazer sexual das mulheres e elevar o risco de morte delas e de seus filhos durante o parto.

O relatório da Unicef também constatou que, embora a prática às vezes seja vista como um esforço patriarcal para controlar a sexualidade feminina, com frequência ela é realizada por mulheres, sendo que em alguns países -incluindo Guiné, Serra Leoa e Chade- mais homens que mulheres são favoráveis a que se acabe com a mutilação. A justificativa mais comum apresentada para levar adiante o corte genital é a garantia de aceitação social. Pesquisadores da ONU descobriram que muitas mães que se opõem à prática relatam que levaram suas filhas para serem mutiladas.

"O que você pensa, individualmente, não basta para pôr fim à prática, devido às pressões sociais", disse Cappa.


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