Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Ensaio - Dan Barry

Túmulo guarda feitio mórbido

FORT WORTH, Texas - Em um canto do cemitério Shannon Rose Hill, há um pedacinho de chão onde a grama desapareceu devido ao número de visitantes que chegam para contemplar um túmulo específico. A lápide diz tudo: Oswald.

Há meio século, desde que um homem pequeno e pálido chamado Lee Harvey Oswald assassinou o presidente John Kennedy, as teorias e as tramas de conspiração que circulam sobre o caso se tornaram quase tão familiares quanto o evento em si. A máfia. Fidel Castro. E, claro, Nick Beef.

Nos últimos 15 anos, esse curioso nome vinha incomodando os obsessivos estudiosos do assassinato que visitam o túmulo de Oswald. Isso porque uma lápide de granito rosa surgiu repentinamente ao lado do túmulo do assassino em 1997 e a única informação que continha era um nome:Nick Beef.

Quem foi Nick Beef?

Para começar, Beef continua fora da cova, vivendo alegremente em Nova York. Agora, com o 50° aniversário do assassinato de Kennedy se aproximando, ele decidiu se revelar.

Beef, 56, é escritor e um "artista performático que não faz performances" e que tem pendor pelo mórbido. Diz que Nick Beef é uma de suas mais antigas personas. Seu nome real é Patric Abedin, e sua história é a que segue.

Em 21 de novembro de 1963, o presidente Kennedy e sua mulher, Jacqueline, pousaram na base aérea Carswell, em Fort Worth. Entre as muitas pessoas presentes para a chegada estava o jovem Patric, 6, filho asmático de um navegador da força aérea. O primeiro casal passou por ele, a apenas alguns metros de distância.

Na manhã seguinte, o futuro Nick Beef contou aos seus colegas de escola a história da chegada do presidente. Logo em seguida, o diretor anunciou que o presidente havia sido atacado a tiros.

A vida do menino seguiu adiante. Seu pai o levou à Feira Mundial de Nova York. Seu irmão mais velho quebrou a mandíbula brincando. Seus pais se divorciaram. Aos dez anos, Patric sobreviveu a um acidente de carro que matou um amigo de nove anos de idade.

A lição que ele estava aprendendo com tudo isso: "As coisas mudam muito rápido".

No final dos anos 1960, ele estava vivendo com a mãe em Arlington, no Texas. Eles iam de carro toda semana à base de Carswell para seu tratamento contra a asma e, na volta, passavam pelo cemitério.

"Ela saía do carro, olhava para o túmulo de Oswald", conta, "e me dizia para nunca esquecer que eu tinha visto Kennedy na noite anterior à sua morte".

Quando tinha 18 anos, Abedin leu que o lote ao lado do túmulo de Oswald jamais havia sido comprado. Ele deu uma entrada de US$ 17,50 e prometeu realizar 16 pagamentos mensais de US$ 10. Beef muitas vezes se perguntou por quê. "Aquilo significava alguma coisa em minha vida", é a única resposta que encontrou.

A vida seguiu seu curso imprevisível. Ele trabalhou para uma estação local de TV, mudou-se para Nova York e se envolveu com uma companhia de comédia. Trabalhou como redator freelancer de humor, ocasionalmente assinando os trabalhos como Nick Beef. Casou-se, teve dois filhos e se divorciou.

No final de 1996, a mãe de Beef morreu, e ele voltou ao Texas para o funeral. Durante a estadia, visitou o cemitério de Rose Hill e decidiu comprar uma lápide.

Desde então, os estudiosos do assassinato começaram a trocar teorias pela internet.

Sim, ele admite que tem pendor pelo mórbido. Mas isso não significa que tenha comprado o lote ao lado de Oswald como piada ou como uma instalação de arte. "É pessoal. Tem a ver com mudança."

Não, Nick Beef não será sepultado ao lado do homem que matou Kennedy.

"Prefiro ser cremado", diz.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página