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Inteligência - Erhard Stackl

Alemães devem eleger continuidade

Viena

Raramente uma campanha eleitoral nacional foi acompanhada com tanta atenção, na Europa, quanto a que está em curso na Alemanha. Os países em crise da zona do euro estão à espera de indicações sobre o futuro da assistência europeia, enquanto a nação mais poderosa economicamente da união monetária realiza eleições em 22 de setembro. Uma manchete no diário espanhol "El País" resumia a atitude prevalecente: "Berlim, capital da Europa".

Os crescentes temores de que a Alemanha possa se cansar de seu papel de salvadora da zona do euro parecem infundados. "O euro é bom para o nosso país", proclamou Angela Merkel. A chanceler [primeira-ministra], conhecida como "Mutti" [mamãe] por muitos de seus compatriotas, disse recentemente ao Legislativo que a crise tinha acabado, no que tange à Alemanha. Mas Merkel, que definiu seu pais como "propulsor do crescimento e âncora da estabilidade da Europa", acrescentou que "sabemos que, em longo prazo, a Alemanha só se sairá bem caso a Europa se saia bem". Poucos dias antes disso, ela havia admitido que a Grécia, pesadamente endividada, talvez necessitasse de um novo pacote de resgate.

Peer Steinbrück, o rival social-democrata que está atrás de Merkel nas pesquisas, concorda com ela quanto ao destino comum da Europa, mas a criticou por impor austeridade demais à Grécia. Em lugar de medidas para enfrentar o desemprego entre os jovens do país, "havia apenas o bastão dos cortes atingindo os gregos na cabeça", disse Steinbrück.

Mais problemas estão a caminho. O caminho da recuperação será pedregoso para Irlanda e Portugal, que também podem precisar de novas verbas. Steinbrück exige o fim do "círculo vicioso" de dívida e austeridade, mas o apelo não parece encontrar eco entre os eleitores. Ecoando o presidente francês François Hollande, ele defende um "Plano Marshall" para a zona do euro, inspirado pelo programa de recuperação econômica financiado pelos Estados Unidos que beneficiou a Europa depois da Segunda Guerra Mundial.

Mas primeiro é preciso esclarecer a confusão sobre o custo do resgate para a Alemanha, diz Alfred Grosser, intelectual francês nascido em Frankfurt e conhecido como um dos arquitetos da reconciliação franco-alemã no pós-guerra. "Até agora, a Alemanha não perdeu um euro por conta da Grécia", diz o professor Grosser, acrescentando que os juros sobre os empréstimos concedidos por bancos alemães elevaram seus lucros. "Mas, na Alemanha, todo mundo pensa que enormes quantias foram dadas à Grécia".

Para sorte da Alemanha, não só sua economia deve crescer de novo neste ano como a da França também está saindo da recessão. A Alemanha precisa de um parceiro. Com o Reino Unido se mantendo afastado da zona do euro e a Itália em estado de choque desde a queda pública de Silvio Berlusconi, os alemães depositam suas esperanças na França. Sentimentos negativos e até mesmo ódio quanto à Alemanha estão crescendo no sul da Europa, mas não na França.

"A Alemanha é admirada pelos franceses porque realizou algo que eles jamais conseguiram", diz Grosser, que lecionou no Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Ao mesmo tempo, eles temem um pouco os alemães e temem a impressão de que eles estão na liderança".

A Alemanha, de fato, não está pressionando por um papel de liderança e adere ao seu lema: "Vamos cuidar do comércio, que dá lucro, e deixar que os norte-americanos liderem". A abordagem cautelosa quanto aos assuntos internacionais foi demonstrada na campanha eleitoral: nenhum alemão defendeu a participação do país em um ataque militar à Síria, e a resposta à espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana na Europa foi discreta.

Os alemães gostariam que a Europa rodasse tão macio quanto os motores dos carros que fabricam. O resultado mais provável da eleição -a confirmação do governo de centro-direita de Merkel ou uma grande coalizão liderada por ela, mas incluindo os social-democratas- indica que o público alemão apoia as políticas que estão mantendo a Europa unida.

Para construir uma casa mais estável na Europa, uma solução audaciosa para a crise do euro é necessária, mas não existe consenso. Os franceses querem uma união bancária europeia e custos compartilhados em caso de falência de bancos. Já os alemães relutam em adotar a ideia, temendo que arcariam com a maior parte do prejuízo.

Já a Alemanha, de sua parte, promove a ideia de um Ministério das Finanças europeu, em Bruxelas, que supervisione as políticas fiscais dos países membros. Grosser adverte que o presidente Hollande e os franceses apoiam essa solução só em teoria.

"Quando Bruxelas disser que os tratados existem para serem cumpridos", afirma, "Hollande responderá que não aceita violações da soberania francesa".

Aqueles que esperam que uma nova abordagem para resolver os problemas da Europa ganhe forma depois da eleição alemã provavelmente se decepcionarão.

Envie seu comentário a intelligence@nytimes.com


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