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New York Times

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Jovens russos lideram ataques a imigrantes

Por ANDREW ROTH

Caía a noite. Nove jovens estavam reunidos em uma rua de Chertanova, comunidade no subúrbio de Moscou. Cabelos cortados bem curtos, alguns deles usavam máscaras cirúrgicas e espessas luvas de trabalho. O líder do grupo, Aleksei Khudyakov, transmitia as instruções finais.

"Os alojamentos em que eles vivem ficam do outro lado do edifício", explicou Khudyakov, 25.

"Eles" são o mais recente alvo da indignação dos moscovitas: imigrantes não registrados, especialmente os de ex-repúblicas soviéticas como o Uzbequistão e o Tadjiquistão.

A equipe de Khudyakov planejava pegá-los. "Vamos entrar", disse ao grupo, "mas não seremos rudes. Não quero agressão".

O grupo adotou o nome "Escudo de Moscou" e se descreve como uma organização "de defesa de direitos". Como outras entidades, atrai homens e mulheres, alguns por zelo e outros por tédio, em busca de um propósito para a vida ou de um senso de participação.

O grupo ingressa nos superlotados espaços em que vivem os imigrantes e tenta impedi-los de sair até que a polícia chegue. Em contagem no seu site, o Escudo de Moscou alega ter "descoberto" desde março mais de 600 imigrantes ilegais, sete dos quais foram deportados.

Enquanto a Rússia reprime muitas ONGs, especialmente aquelas acusadas de desafiar o presidente Vladimir Putin, grupos frouxamente organizados como o de Khudyakov parecem prosperar, especialmente os de perfil mais conservador.

O Escudo de Moscou desfruta de considerável liberdade de ação, sem oposição -e ocasionalmente com assistência tácita- da polícia, enquanto seus membros adotam táticas agressivas e até mesmo ilegais.

O grupo, como outras organizações nacionalistas e de juventude patriótica, oferece auxílio voluntário à campanha de repressão de Moscou aos imigrantes ilegais, intensificada em agosto quando a polícia encarcerou 1.500 deles em uma prisão improvisada.

"Eles encontraram um nicho seguro", disse Alexander Verkhovsky, diretor do Centro Sova de Informação e Análise, que monitora o extremismo na Rússia. "No final, é só diversão para eles. Invadir casas, pressionar pessoas. Eles são jovens, enfim."

O Escudo de Moscou, criado por Khudyakov, veterano com seis anos de participação no Jovem Rússia, grupo favorável ao governo, realizou mais de 50 "batidas" -inspeções-surpresa em alojamentos que abrigam alguns dos dois milhões de imigrantes ilegais que moram em Moscou.

"Eles acham que somos nazistas", diz Anton Zharkov, 20, universitário que participa do grupo com a namorada. "Mas não agimos para espancá-los ou puni-los. Só queremos justiça."

Críticos de suas ações, como Verkhovsky, dizem que eles tomam a lei em suas mãos. "Estão agindo como acham que a polícia russa deveria agir. Isso mais ou menos significa que eles se arrogam o poder de impor a lei", disse.

Alguns outros movimentos foram investigados pela polícia. Dentre eles, o Occupy Pedofilia, que faz emboscadas e agride violentamente adolescentes gays. Em agosto, a polícia anunciou ter revistado casas de alguns dos integrantes do grupo.

Em uma das ações contra imigrantes, em agosto, cinco organizações -entre as quais a Escudo de Moscou e duas outras conhecidas como Luz da Rússia e Ataque- alegaram ter pego mais de cem imigrantes ilegais, em operação supervisionada pela polícia. Vídeos mostram jovens musculosos usando a força para dominar imigrantes em uma feira de rua.

A polícia nega participação nas ações dos ativistas. Mas organizadores de diversos desses grupos disseram que cerca de 40 membros das forças de segurança participaram da batida.

Fotos e vídeos em redes sociais mostravam policiais e membros dos grupos realizando detenções, e a polícia conduzindo os prisioneiros a ônibus.

No edifício de Chertanova, o Escudo de Moscou encontrou a porta destrancada, entrou e chamou a polícia.

Enquanto dois policiais verificavam documentos, Yunus Daminov, 24, um dos 12 uzbeques que vivem no local, dizia que aquela não era a primeira invasão por desconhecidos.

Daminov afirma que foi espancado durante uma das invasões. Um dos policiais informou a Khudyakov que todos os moradores eram trabalhadores registrados. "Compreendemos o que vocês estão fazendo", disse o policial a Khudyakov. "Vocês têm outras queixas quanto a este bairro?"


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