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New York Times

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Ferrovias escapam de integração europeia

Maquinistas cruzam linhas obsoletas em alta velocidade

Por DOREEN CARVAJAL

PARIS - Depois que um acidente ferroviário deixou 79 mortos em 24 de julho na Espanha, investigadores, sobreviventes e passageiros exigem saber por que a operadora da ferrovia confiou a segurança do trem a um único maquinista, que se vangloriava de exceder o limite de velocidade e usava o celular segundos antes do descarrilamento.

O choque perto de Santiago de Compostela foi apenas um em uma série recente de acidentes mortíferos envolvendo trens na Bélgica, França, Espanha e Suíça. Os acidentes despertaram questões perturbadoras sobre a rede ferroviária europeia, por muito tempo motivo de inveja em todo o mundo.

Há 12 anos, a União Europeia pressiona para que as ferrovias nacionais se unifiquem, como um elemento crucial da integração do continente.

A partir de 2014, o bloco planeja investir US$ 30 bilhões na integração de cerca de 20 redes ferroviárias nacionais já interconectadas. Porém, mesmo após anos de investimentos, os países-membros enfrentam dificuldades para colocar em operação um sofisticado sistema unificado, dada a substituição dos monopólios estatais por operadoras ferroviárias privadas concorrentes.

O resultado é uma colcha de retalhos de sistemas velhos e novos, na qual trens de alta velocidade do século 21 muitas vezes operam em linhas construídas no século 19 para trens mais lentos e volume de tráfego menor. Os mais avançados sistemas automatizados de frenagem não estão disponíveis em junções importantes. Assim, mais responsabilidade pela segurança recai sobre os maquinistas, que agora trabalham sozinhos na cabine devido aos cortes de pessoal que as companhias adotaram.

"Costumava haver um agente de estação, um vigia nos trilhos e o maquinista", diz Giorgio Tuti, presidente do SEV, sindicato suíço dos trabalhadores do transporte. "Agora restou apenas o maquinista."

Muitas linhas nacionais dependem de sistemas antiquados. Documentos sigilosos da investigação sobre o desastre na Espanha, publicados pelo jornal "El País", indicam que um alerta soou duas vezes antes do descarrilamento, mas que o sistema obsoleto de frenagem automática do trem só conseguiu desacelerá-lo parcialmente.

É nisso que a tecnologia transnacional de sinalização da União Europeia -o Sistema Europeu de Controle de Trens- deveria ter papel crucial. Mas o sistema de frenagem que incorpora a tecnologia não existia no local do desastre do trem em Santiago de Compostela, porque não é possível instalá-lo nas porções convencionais da ferrovia, disseram as autoridades ferroviárias.

O maquinista, Francisco José Garzón Amo, foi acusado de homicídio culposo depois de admitir ter operado o trem a 179 km/h, mais de duas vezes o limite de velocidade do trecho.

Após o acidente, o governo espanhol anunciou uma revisão de segurança e de medidas preliminares, entre as quais a proibição de uso de celulares pelos maquinistas. Há outras mudanças em estudo.

Uma junção frouxa entre trilhos foi apontada como causa do acidente com um trem francês que, em 12 de julho, matou sete pessoas em um subúrbio de Paris, levando o presidente François Hollande a prometer mais recursos para a conservação dos trens regionais.

Mas os sindicatos de ferroviários se queixaram publicamente, no começo de setembro, dos cortes de pessoal, do aumento do tráfego e da deterioração das linhas ferroviárias.

Depois que um trem carregado de produtos químicos tóxicos descarrilou em maio na Bélgica, matando uma pessoa, a imprensa local informou que o maquinista estava acima do limite de velocidade. Os sindicatos também exigem a mais recente tecnologia de frenagem.

Na Suíça, dois trens colidiram em 29 de julho, matando um maquinista. A operadora ferroviária do país considera acelerar a instalação de um sistema automático de frenagem. O plano atual envolve reequipar as linhas até 2035, a um custo de mais de US$ 2,6 bilhões. Os maquinistas suíços consideram que a demora é excessiva e agora querem um funcionário suplementar no trem ou na estação para ajudá-los.

María Teresa Gómez-Limón, legisladora de Madri que sobreviveu ao acidente em Santiago de Compostela, disse: "Quando você viaja de avião, o piloto tem um assistente e tecnologia automática à sua disposição."


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