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New York Times

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Desaceleração econômica freia corrupção na Índia

Por GARDINER HARRIS

HOSPET, Índia - Depois de uma década de rápido crescimento econômico, a Índia está atravessando um súbito período de desaquecimento, com a Bolsa de Valores e o câmbio em queda. Mas alguns economistas acreditam que essa desaceleração pode ser boa, especialmente se agir como antídoto contra a tóxica mistura de corrupção política e compadrio capitalista que alimentou o boom do país.

A Índia tem 55 bilionários, entretanto, apenas pouco mais de metade de seus habitantes têm acesso a vasos sanitários. "Por anos, eu tive muito medo de que a Índia estivesse sendo capturada pelos oligarcas", disse Ajay Shah, professor do Instituto Nacional de Política e Finanças Públicas, em Nova Déli.

Shah definiu os últimos dez anos de rápido crescimento econômico como uma "bolha da corrupção". Ele e outros afirmam que o preço da correção política e econômica que a Índia está atravessando será enorme. Além disso, eles preveem um crescimento, para os próximos cinco anos, muito inferior ao dos últimos dez anos.

No entanto, mesmo aqueles que se beneficiaram com o recente boom alimentado pela corrupção -e que agora sofrem com o colapso- estão felizes com as medidas repressivas adotadas recentemente.

Três anos atrás, Hospet, cidade mineradora de médio porte, estava prosperando graças a um surto de mineração ilegal. Um magnata local havia utilizado conexões políticas e propinas para evitar os longos e dispendiosos processos de licenciamento. Ele abriu dezenas de minas ilegais e expandiu em muito a produção. Milhares de caminhões carregados de minério cruzavam diariamente as ruas de Hospet. Boa parte da população da cidade se beneficiava direta ou indiretamente da corrupção.

Mas então o lento e ineficiente sistema indiano de Justiça começou a entrar em ação. A mineração foi suspensa. G. Janardhana Reddy, magnata da mineração ilegal, foi detido, e a economia local despencou.

O notável, em dezenas de entrevistas de rua conduzidas na cidade, é que não há uma pessoa em Hospet que acredite que a corrupção deva continuar.

E. Vishwanath, proprietário da V. S. R. Minerals, é um caso típico. Três anos atrás, ele tinha dez caminhões basculantes e arrendava outros mil, faturando quase US$ 2.000 por mês, um alto salário na Índia. Ele tinha carro, dava pesadas correntes de ouro à sua mulher e organizava festas de aniversário com 200 convidados para suas filhas pequenas.

Desde a mudança, os bancos retomaram seus caminhões e ele se viu forçado a vender o carro e as joias da mulher. Os aniversários de suas filhas agora são festas pequenas, só para a família.

"Éramos muito felizes, então. Gastávamos e gozávamos da vida", diz Vishwanath.

Mas, em vez de culpar os juízes pelo fim do boom, Vishwanath culpa os políticos corruptos por forçar demais a expansão. "Creio que precisamos deter completamente a corrupção", disse. "Se meu negócio fosse regulamentado, eu ainda estaria trabalhando".

Kiran Kumar, gerente do hotel Krishna Palace, teve reação parecida. Durante o boom, seu hotel estava sempre lotado de executivos siderúrgicos e de mineração da China e da Austrália. Agora, as diárias e o índice de ocupação do hotel caíram pela metade.

Mas, a despeito das dificuldades, ele se diz um inimigo apaixonado da corrupção. Neste ano, ele pagou propina para colocar seu filho de quatro anos em uma boa escola, algo que o ultrajou. "Sei que me beneficiei da corrupção, mas ainda assim sou contra ela", diz.

A corrupção não é o único problema da Índia, claro. Uma virada no fluxo mundial de capital prejudicou muitas das economias emergentes, como Brasil, Indonésia e África do Sul. Mas a Índia esteve entre os países mais atingidos.

Sourindra Banerjee, professor-assistente de marketing na Universidade de Warwick, no Reino Unido, disse que a corrupção era mais aceitável na Índia quando a economia do país era fechada. Mas, agora que o país ingressou no mercado mundial, as expectativas mudaram. "Os investidores estrangeiros não aceitam o tipo de corrupção que sempre foi bastante comum nas companhias indianas", disse Banerjee.


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