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Holland Cotter - Crítica de Arte

Exposição traz modernismo iraniano a NY

O modernismo sempre foi uma aventura global que aconteceu por diferentes motivos, de maneiras diferentes, em momentos diferentes e em todo lugar.

O fato de os Estados Unidos e a Europa ainda não terem acordado de todo para essa realidade torna extremamente educativa uma exposição como "Iran Modern", que está em cartaz no Asia Society Museum em Nova York até o dia 5 de janeiro.

É verdade que a exposição não é o que poderia ter sido em um mundo ideal. As sanções dos Estados Unidos contra o Irã impediram o empréstimo de obras de arte do próprio país, situação que limitou os curadores a obras existentes nos EUA, na Europa e no Oriente Médio. Mesmo com limitações, porém, é a maior mostra do tipo já feita em um museu fora do Irã.

Grande parte dessa arte é mais complexa do que parece. A abstração é muitas vezes mais que abstrata. Os motivos decorativos, considerados tema menor no Ocidente, são importantes aqui, uma finalidade insistente e expressiva por si só.

Durante o boom do petróleo iraniano, nos anos 1960, surgiram galerias e três jovens artistas -Faramarz Pilaram (1937-1982), Parviz Tanavoli e Charles Hossein Zenderoudi- deram a seus esforços um título, "Saqqakhaneh", que é o nome de um tipo de santuário muçulmano na forma de uma fonte pública, ou poço, para comemorar a morte dos mártires xiitas que foram privados de água por seus inimigos na batalha de Karbala em 680.

Há muito tempo, uma cultura visual cresceu em torno desses lugares reverenciados que pontilham as cidades iranianas. Os artistas do Saqqakhaneh incorporaram elementos dela -berloques, selos e inscrições- em sua arte, juntamente com formas geométricas quase abstratas que sugerem figuras e construções familiares da pintura de manuscritos persas.

O resultado é às vezes chamado de arte pop espiritual, e Zenderoudi deu a largada. Uma grande gravura em linóleo que ele fez por volta de 1958 foi um teste: ela representa a batalha de Karbala em um estilo rude, remanescente do expressionismo ocidental e da pintura narrativa folclórica iraniana. Então, por volta de 1960, em uma requintada pintura em prata e ouro de uma mão amputada -um símbolo xiita- inserida em nuvens de caligrafia, ele conseguiu o equilíbrio que procurava.

Em 1962, em uma série de pinturas chamadas "Mesquitas de Isfahan", Pilaram combinou a escrita cursiva com formas arquitetônicas que pareciam anatômicas. Tanavoli, que havia voltado de estudos na Itália, foi comparativamente experimental na escultura, incorporando em suas obras figuras heroicas de épicos persas e moldando em bronze letras da caligrafia persa. Algumas figuras combinavam imagens de santuários com formas fálicas.

Na parte da exposição intitulada "Abstração e Modernismo", há uma série de pequenos relevos feitos de areia e terra por Marcos Grigorian (1925-2007) no início dos anos 1960, precedendo em alguns anos a arte da terra ocidental.

Monir Shahroudy Farmanfarmaian passou grande parte de sua carreira em Nova York, onde foi amiga de Andy Warhol -ela o levou para Teerã em 1976. Suas esculturas de vidro reluzentes foram inspiradas em mosaicos de vidro de uma antiga mesquita de Shiraz.

Uma seção temática, "Caligrafia e Modernismo", pode parecer bastante simples. Mas, na tradição persa, a escrita não é apenas um veículo para as palavras, mas meio de crítica social.

Nos trabalhos de Reza Mafi, calígrafo que se transformou em pintor, a presença da política é explícita. Em um pequena pintura a óleo de 1978, quando a revolução estava explodindo, vemos linhas caligráficas vermelhas que se erguem como línguas de fogo e punhos fechados pairando no escuro atrás delas.

Uma grande galeria no terceiro andar é quase totalmente ocupada por material político. Já se disse que os artistas modernos iranianos assumiram o papel da dissidência antes atribuído aos poetas. Em que medida isso é verdade não sei, mas há muita arte de protesto aqui: um autorretrato nas barricadas de Ahmad Aali, os desenhos tópicos de Ardeshir Mohassess e as pinturas de Nicky Nodjoumi de 1976 sobre execução e tortura.

Sobretudo, a exposição ofere-ce o drama de se encontrar um novo modernismo. É um dos muitos espalhados pelo mundo e um que se revela complexo e generoso -como parte de uma imagem global, mas também autônomo.


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