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New York Times

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Plantações de açúcar desalojam cambojanos

Ausência de provas legais de propriedade prejudica moradores

Por KEITH BRADSHER

COMUNA OMLIANG, Camboja - Yim Lon tem amargas lembranças de três anos atrás, quando autoridades locais obrigaram sua família a desmontar sua pequena casa e mudá-la para dar lugar a uma plantação de cana-de-açúcar.

A Phnom Penh Sugar Company lhes pagou algumas centenas de dólares, menos de um décimo do que Yim, 53, considerava ser o valor do pequeno terreno agrícola de sua família.

Ela sonha em poder mudar sua casa, feita de tábuas de madeira e chapas metálicas, de volta ao lugar perto do rio onde eles plantavam arroz. Ela está convencida de que parte da culpa por sua situação é dos europeus, que compram açúcar da companhia Phnom Penh Sugar. "Se a Europa continuar comprando da empresa, continuaremos sofrendo."

A Phnom Penh Sugar diz que agiu com justiça e cumpriu as leis locais. Novos cultivos de cana em todo o Camboja geraram milhares de empregos para trabalhadores migrantes e agricultores de subsistência, além de centenas de postos para operários fabris qualificados.

Mas a prática corporativa de obter milhares de hectares do governo como concessões de desenvolvimento econômico para plantações de cana, enquanto apenas indenizações modestas são pagas para os agricultores expulsos da terra, projeta uma dura luz sobre os pactos comerciais que se destinariam a ajudar os países mais pobres.

Para muitos ativistas, os pactos comerciais podem ter o efeito indesejado de incentivar a ocupação de terras por famílias com ligações políticas.

Quase todas as exportações de açúcar do Camboja vão para a União Europeia, sob o programa Tudo Menos Armas, que elimina as tarifas de importação de açúcar. A UE também estabelece altos preços para o açúcar cambojano, bem acima dos níveis mundiais. Ativistas do Ocidente e do Camboja têm pedido a exclusão do açúcar da isenção de impostos na Europa e tentam organizar boicotes de consumidores contra empresas que compram açúcar cambojano.

Mas o embaixador Jean-François Cautain, chefe da delegação da UE para o Camboja, diz que as crescentes exportações de açúcar ajudaram o país a triplicar a renda média anual por pessoa, na última década, para US$ 980 e reduziram a pobreza para um quinto da população do país.

O açúcar representou apenas US$ 25,2 milhões do US$ 1,34 bilhão em produtos cambojanos que a UE comprou no primeiro semestre deste ano.

Mas a indústria do açúcar criou empregos de cortadores de cana para trabalhadores migrantes de aldeias ainda mais pobres que a comuna de Omliang. As refinarias de açúcar também trouxeram milhões de dólares em investimentos, estradas e outros benefícios para áreas remotas onde os investidores temiam se aventurar.

A Phnom Penh Sugar diz que gastou US$ 220 milhões em sua refinaria, levou linhas de energia para o vale, construiu uma usina de tratamento de água e uma escola, ergueu dormitórios para os trabalhadores qualificados e construiu estradas e pontes para substituir as trilhas enlameadas.

Os moradores se queixam de que a escola é pequena. Os desalojados dizem não ter acesso à água tratada e que dependem de poços cuja água é menos limpa que a que antes corria perto de suas casas.

O problema remonta aos horrores do período do Khmer Vermelho, quando até um quarto da população do Camboja foi assassinada nos "campos da morte" e nas prisões do país.

Outros morreram de fome em grande escala.

Mas um aspecto menos conhecido do regime do Khmer Vermelho foi a destruição sistemática de quase todos os registros de propriedade no Camboja. A situação hoje é ambígua.

Questionado sobre a afirmação de Yim e de outros moradores locais que foram ameaçados de prisão se não desocupassem a terra concedida à Phnom Penh Sugar pelo governo, Seng Nhak, diretor-gerente da companhia, disse: "Eles têm o direito de continuar em sua terra, desde que tenham a documentação adequada e provas da propriedade para as autoridades e a comissão de disputas de terras".

Ele não quis comentar se os residentes não conseguiram obter documentos para confirmar a propriedade da terra.

"Isso é uma questão para as autoridades locais", disse.


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