Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Cristina Kirchner se alia à Chevron para exploração de xisto

Governo enfrenta oposição de índios e ambientalistas

Por SIMON ROMERO e CLIFFORD KRAUSS

NEUQUÉN, Argentina - Nas estepes patagãs varridas pelo vento, operários perfuram em tempo integral aquele que pode ser o próximo grande campo petrolífero do mundo. A Argentina, que há anos trata com desconfiança os investidores estrangeiros, formou uma improvável aliança com a gigante americana Chevron para explorar o campo de Vaca Muerta.

A presidente Cristina Kirchner tem demonstrado -apesar das dúvidas sobre sua saúde, após uma cirurgia neste mês- que está disposta a dar as costas às suas políticas econômicas dos últimos anos, levando adiante a parceria com a Chevron.

Seus críticos e até alguns apoiadores estão furiosos, por causa do longo conflito judicial dessa empresa com o Equador por causa da poluição na Amazônia. Outras batalhas judiciais em curso dizem respeito à nacionalização da maior empresa petrolífera da Argentina.

Além disso, os protestos contra o fraturamento hidráulico -a injeção de água e substâncias químicas a alta pressão para extrair gás e petróleo em campos de xisto- aqui no deserto da Patagônia se tornaram ferozes, e a polícia chegou a usar gás lacrimogêneo e balas de borracha contra milhares de manifestantes.

A adesão de Cristina à Chevron revela até onde alguns governos, desesperados por dinheiro, e as companhias energéticas estão dispostos a ir para copiar a revolução do petróleo de xisto nos Estados Unidos. Poucos campos oferecem as mesmas riquezas potenciais que o de Vaca Muerta, com reservas quase iguais às reservas totais da gigante petrolífera Exxon Mobil. "Não há nada nem parecido com isto no mundo", disse Ali Moshiri, presidente de Exploração e Produção na África e América Latina da Chevron, referindo-se a Vaca Muerta. "No nosso negócio, o risco é parte da equação."

A Administração de Informação Energética dos Estados Unidos coloca a Argentina em quarto lugar, atrás da Rússia, EUA e China, com reservas tecnicamente recuperáveis de 27 bilhões de barris de petróleo de xisto. E coloca a Argentina em segundo lugar, atrás da China, em termos de reservas recuperáveis de gás de xisto, com estimados 2,2 trilhões de metros cúbicos.

Mas a oposição de ambientalistas e índios mapuches continua feroz. "Esta é a pior forma de extrair petróleo e pela companhia com o pior histórico", disse Enrique Viale, presidente da Associação Argentina de Advogados Ambientais.

Há um ano, a Chevron formou uma parceria preliminar com a YPF, companhia petrolífera argentina controlada pelo governo, para ajudar a desenvolver Vaca Muerta. O empreendimento pode perfurar outros 1.500 poços até 2017, exigindo mais de US$ 17 bilhões em investimentos. Isso poderia elevar a produção a 50 mil barris de petróleo e 3 milhões de metros cúbicos de gás por dia durante 35 anos.

Poucas empresas tiveram coragem de apostar tão alto desde que a Argentina declarou a moratória da sua dívida soberana de mais de US$ 81 bilhões, em 2001. Cristina renacionalizou a YPF no ano passado e ainda não pagou nenhuma compensação financeira à companhia petrolífera espanhola Repsol por sua participação majoritária, que a Repsol diz valer US$ 10,5 bilhões.

Apontando para esses desafios, Miguel Galuccio, executivo-chefe da YPF, insistiu numa entrevista que o futuro da economia argentina depende da capacidade da YPF de desenvolver os recursos nacionais de petróleo de xisto.

Galuccio contratou respeitados gestores e engenheiros de petróleo, muitos deles argentinos radicados no exterior, para ocupar os altos escalões da YPF. Ele começou a reverter o declínio na produção da YPF, reposicionando a empresa de modo a focá-la no fraturamento hídrico em Neuquén.

Diante de uma potencial crise financeira, o governo argentino alterou nos últimos meses os rumos da sua política energética, como já havia feito com frequência anteriormente. Numa decisão voltada especialmente para a Chevron, Cristina emitiu um decreto permitindo que as empresas de petróleo e gás vendam 20% da sua produção ao exterior sem pagar impostos de exportação nem ter a obrigação de repatriar os lucros -desde que invistam mais de US$ 1 bilhão no país.

As autoridades petrolíferas argentinas dizem que o acordo entre a Chevron e a YPF irá blindar a companhia americana contra prejuízos financeiros ligados a uma mudança no cenário político. Depois que a empresa investir US$ 1,2 bilhão, 18 meses depois ela poderá abandonar suas operações sem penalidades e continuará recebendo perpetuamente os lucros líquidos de 50% da produção dos poços iniciais.

Lefxaru Nahuel, 26, mapuche da Patagônia, disse que irá continuar liderando protestos. "Vamos continuar nossa luta para defender a terra, a água e o ar", disse ele. "Com o fraturamento, não há futuro para nós aqui."

Colaborou Jonathan Gilbert, de Buenos Aires


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página