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New York Times

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Lagosta vira pivô de tensão fronteiriça

Por IAN AUSTEN

OTTAWA - As lagostas não respeitam as linhas que definem a fronteira entre Canadá e EUA. Mas, por cima da água, o limite internacional é bastante real, com uma crescente tensão transfronteiriça à medida que ambos os lados tentam faturar numa época em que a produção recorde de lagosta reduz o preço obtido pelo produto.

No ano passado, os pescadores canadenses, irritados com a inundação de lagostas importadas a preço baixo do Maine, chegaram a impedir a entrada de caminhões carregados de crustáceos nas fábricas canadenses. Já os pescadores do Maine temem que o setor seja afetado por regras comerciais que transformem as lagostas do Maine em um produto canadense.

A abundância de lagostas reduziu os preços pagos aos pescadores a níveis inéditos nas ultimas décadas, chegando no último verão boreal a apenas US$ 2,60 por quilo em algumas partes do Maine, depois de passar os últimos dez anos a um preço médio ligeiramente inferior a US$ 9. Grande parte dessa baixa não foi repassada aos consumidores. A lagosta pode custar até US$ 30 o quilo num supermercado.

"Alguma coisa está seriamente errada, alguém está ficando com esse dinheiro", disse Charles McGeoghegan, que pesca lagostas na ilha Príncipe Edward, no Canadá.

Cada lado acha que o outro está lucrando. Dependendo de quem faz a conta, 50% a 70% das lagostas do Maine vão parar em unidades de processamento do Canadá. O governador do Maine, Paul LePage, está incomodado com as regras comerciais que transformam a lagosta do Maine em lagosta canadense depois do processamento no Canadá. Ele argumenta que a indústria do processamento no Canadá é fortemente subsidiada. LePage diz estar empenhado em tornar o Maine autossuficiente no processamento dentro de três anos.

A Associação dos Pescadores de Lagosta do Maine defende um acordo que faça as lagostas canadenses serem rotuladas da seguinte maneira: "Pescada no Maine, processada no Canadá".

É uma ideia que muitos produtores de lagosta do Canadá apoiam, mas não por razões de harmonia transfronteiriça. Charles McGeoghegan disse que o atual sistema leva a lagosta do Maine, "de qualidade inferior", a ser vendida como se fosse um produto canadense.

São palavras conflitantes, mas o fato é que cada lado procura crustáceos muito diferentes. Os pescadores do Maine capturam principalmente as lagostas de casca mole, que acabam de trocar a carapaça. Antes e depois da temporada de verão no Maine, é o momento da lagosta canadense de casca dura.

Mesmo se ninguém perguntar, quase todos na indústria pesqueira do Maine dizem que a lagosta de casca mole é "incrivelmente fresca e tenra", como descreveu Patrice McCarron, diretora-executiva da Associação dos Pescadores de Lagosta do Maine.

Se a lagosta de casca mole é mais macia, disse Charles McGeoghegan, "é porque ela estácheia de água". Robert Bayer, diretor-executivo do Instituto da Lagosta, da Universidade do Maine, afirmou diplomaticamente desconhecer quaisquer comparações científicas em termos de sabor.

Embora os importadores europeus ainda comprem lagostas, a crise econômica do continente reduziu o volume comercializado. Pescadores de lagostas esperam que a Ásia seja a solução para o setor.

O problema, segundo especialistas, é que há simplesmente lagostas demais. O aquecimento dos oceanos e a pesca excessiva do bacalhau -que é um predador das lagostas- permitiram que os crustáceos se multiplicassem. "Vamos ver essa situação durante um bom tempo", disse Bayer.


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