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New York Times

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LIU XIA

Leitura é refúgio de dissidente

Por AUSTIN RAMZY

Liu Xia, mulher do Prêmio Nobel chinês Liu Xiaobo, diz que, na solidão da prisão domiciliar em Pequim, encontra rara felicidade na leitura. As informações estão em carta que ela escreveu em julho do ano passado.

"Minha leitura não tem nenhuma meta específica. Para mim, é um pouco como respirar -preciso fazer isso para viver", escreveu. "Quando encontro livros que amo, sinto como se o autor escrevesse apenas para mim. Sinto uma alegria íntima."

A carta oferece um raro vislumbre da vida de uma mulher que praticamente desapareceu desde que o Nobel da Paz foi outorgado a seu marido, três anos atrás. Liu recebe visitas de familiares, mas, com essa exceção, é impedida de ter contato com o mundo.

Grupos de defesa dos direitos humanos dizem que sua detenção extrajudicial tem por objetivo pressionar seu marido, que está preso, e impedi-la de defender a causa dele publicamente.

Ela é autorizada a fazer visitas mensais a Liu, na prisão no nordeste da China onde ele cumpre uma sentença de 11 anos de prisão, acusado de "incitar à subversão do poder do Estado". A acusação se deveu à participação dele na redação e organização do manifesto pró-democracia Carta 08.

Uma cópia e tradução da carta de Liu Xia foram entregues ao "New York Times" por Perry Link, professor da Universidade da Califórnia em Riverside. Link disse que recebeu a carta de uma ativista residente em Los Angeles, Ann Lau. Zeng Jinyan, ativista residente em Hong Kong e amiga da família Liu, teve acesso a uma cópia da carta e disse que a letra é de Liu Xia.

Na carta, Liu Xia escreve sobre a importância da leitura em sua vida diária. Diz que se "alimenta de livros" e que uma obra que estava consumindo recentemente era uma história do gulag soviético.

Ela ofereceu um poema que escreveu em 2011, que destaca uma visão pessimista de sua vida: "O futuro, para mim / é uma janela fechada. / A noite no lado de dentro não tem fim / e os sonhos horrendos não se desfazem."

Liu diz em seguida que se sentia muito melhor depois de escrever o poema. "Isso é porque vocês todos me ajudaram a abrir a janela e deixar o Sol nascer. Sei que tudo isto não é o fim, mesmo que a justiça tarde demais em chegar", escreveu.

"Onze anos em dobro agora pesam sobre mim", escreveu, numa provável alusão à sentença de seu marido e à de seu irmão menor, Liu Hui, sentenciado em junho a 11 anos de prisão por fraude financeira.

Parentes e apoiadores disseram que o processo foi politicamente motivado.

Repórteres da agência "Associated Press" visitaram Liu em dezembro 2012, conseguindo entrar sem ser percebidos por seus guardas.

Ela estremeceu e chorou. Qualificou sua situação de absurda e fisicamente exaustiva. Em junho, Liu escreveu uma carta aberta ao presidente Xi Jinping, denunciando sua detenção e o tratamento dado à sua família. "Talvez neste país seja um 'crime' eu ser mulher de Liu Xiaobo", escreveu.

Zeng Jinyan, a ativista residente em Hong Kong, disse temer que o isolamento extremo de Liu Xia tenha consequências psicológicas negativas. Porém, suspeita que Liu rejeitaria cuidados médicos. "Entendo porque ela teria medo de consultar um médico, quando os policiais estão com ela", disse Zeng.

Por enquanto, ela recebe o apoio que pode da leitura. "Ela encontra força e paz nos livros", comentou Zeng.

Liu encerrou sua carta dizendo: "Da próxima vez, escreverei apenas sobre coisas alegres."


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