Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Morte expõe corrosão na Justiça afegã

Por AZAM AHMEDHERAT, Afeganistão - No ano passado, um menino de nove anos, Ali Sena Nowruzi, foi sequestrado a caminho da escola por seu amigo de confiança e guarda-costas e depois espancado até a morte.

Herat irrompeu em protestos quando o corpo do menino foi encontrado, em fevereiro do ano passado. Nasir Nowruzi, o pai do garoto, se recusou a enterrar o filho enquanto os sequestradores não fossem levados à Justiça.

O caso de Ali Sena ilustra o caminho confuso e complicado da Justiça no Afeganistão.

Apesar dos milhões de dólares gastos na tentativa de instalar um sistema judiciário no país, a corrupção é endêmica. Dois homens foram enforcados pelo governo no caso de Ali Sena Nowruzi. Um terceiro foi morto pelo Taleban. Seis outras pessoas, incluindo um chefe distrital de polícia, foram condenadas como parte de um complô mais amplo em torno do sequestro, mas recorreram da sentença.

Por ser um empresário destacado, Nowruzi tinha amigos importantes em Herat, terceira maior cidade do Afeganistão, incluindo o juiz que presidiu o processo inicial. Mas, apesar do apoio de outros afegãos que estão cansados dos frequentes sequestros que afligem Herat, Nowruzi encontra pouco consolo enquanto lida com seu medo e com a perda. Cerca de dois meses atrás, ele fugiu do Afeganistão depois de receber ameaças de morte vindas, segundo ele, de amigos e parentes do chefe de polícia, Saleem Shah. "Eu não me sentia seguro no Afeganistão", disse Nowruzi. "Ainda assim, eu mesmo estou acompanhando o caso. Do contrário, poderia haver uma reviravolta, e eles ficariam livres sem serem punidos."

Depois que seu filho foi levado, em dezembro de 2012, Nowruzi depositou fé nas forças afegãs de segurança. Com a ajuda de seu poderoso amigo, o juiz Abdul Raziq Nejrabi, ele falou com autoridades em altos cargos nos órgãos de polícia e de inteligência, incluindo uma unidade capacitada a rastrear celulares. Negociações de resgate com os sequestradores se arrastaram por quase um mês. Uma noite, um dos sequestradores ligou para Nowruzi do seu telefone pessoal. O homem parecia bêbado, disse Nowruzi.

Usando as chamadas de e para aquele aparelho, os investigadores conseguiram mapear uma intrincada ramificação telefônica, revelando uma rede mais ampla, de 22 pessoas.

Depois de exigirem US$ 400 mil de resgate, os sequestradores fecharam negócio com a família no final de janeiro de 2013: com a entrega de US$ 65 mil, eles libertariam Ali Sena. O dinheiro foi levado, mas Ali Sena nunca apareceu.

Três dias depois, todos os telefones da rede estavam desconectados, e agentes da polícia receberam informações indicando que os sequestradores estavam planejando matar o menino. No dia seguinte, eles prenderam o guarda-costas de Ali Sena, Abdul Samir. Ele imediatamente confessou, e a polícia invadiu o cativeiro.

Mas a operação não levou a nada. Quando os investigadores finalmente encontraram Ali Sena, enterrado em uma cova rasa, eles estimaram que o menino tinha sido morto três dias antes. Na onda de prisões que se seguiu, um suspeito permaneceu fora do alcance do governo, depois de ter fugido na direção do Taleban. Mas os insurgentes o executaram e enviaram a Nowruzi documentos registrando o que haviam feito.

"Eles tinham problemas religiosos e tribais, mas, no aspecto judicial das coisas, eles eram bons", disse Siros Alaf, presidente da Câmara de Comércio de Herat, falando do Taleban. "As pessoas daqui não confiam no Judiciário."

Parentes dos homens presos dizem que o caso foi um complô político para afastar o chefe de polícia e desacreditar membros poderosos da etnia pashtun.

"Eles só estão na cadeia porque tinham contato com os sequestradores e porque tinham vínculos familiares com eles", disse Ahmed Shah Shermin, advogado de um dos réus, Baryalai Zarifi. "Todo mundo está envolvido neste caso. O juiz e a corte de apelações perderam sua independência."

A vida do juiz Nejrabi deu uma guinada para pior. Ele tem recebido ameaças de morte e foi transferido para um distrito distante, decisão que interpretou como punição. Nejrabi se recusou a ir.

"Eu tentei ao máximo ser imparcial", disse. "Acredito na Constituição e acredito em mim mesmo." E acrescentou: "Não sei se acredito na implementação da lei".

Colaborou Jawad Sukhanyar


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página