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New York Times

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Limites da linguagem corporal

Por JOHN TIERNEY

Como a maioria das pessoas, agentes de segurança em aeroportos acham que sabem decifrar a linguagem corporal. Nos EUA, a Agência de Segurança nos Transportes (TSA na sigla em inglês) gastou cerca de US$ 1 bilhão treinando milhares de agentes para decifrar expressões faciais e outros indícios não verbais que identificariam terroristas. Os críticos, porém, dizem não haver provas de que tais esforços tenham detido sequer um único terrorista.

A maioria das pessoas acha que os mentirosos se revelam desviando o olhar ou com gestos que denotam nervosismo. Mas, em experimentos científicos, as pessoas se saem muito mal na tarefa de detectar mentirosos. "Há uma ilusão de percepção que vem de olhar para o corpo de uma pessoa", diz Nicholas Epley, professor de ciência comportamental na Universidade de Chicago. "A linguagem corporal diz muito, porém apenas sussurros."

O programa do TSA foi revisto no ano passado pela Controladoria do Congresso Federal, que recomendou um corte de verbas, pois não havia provas de sua eficácia.

Essa recomendação foi baseada nos resultados medíocres do programa, assim como em um levantamento de literatura científica a cargo dos psicólogos Charles F. Bond Jr. e Bella M. DePaulo, que analisaram mais de 200 estudos. Nesses estudos, pessoas identificaram corretamente mentirosos em apenas 47% das situações. Seu índice de acerto subiu para 61% quando se tratou de identificar quem falava a verdade, mas isso ainda fez a média geral ser de 54%, pouco melhor que um empate.

"A noção corrente de que mentirosos se traem pela linguagem corporal parece ser pouco mais que uma ficção cultural", diz Maria Hartwig, psicóloga na Faculdade John Jay de Justiça Penal na cidade de Nova York. Pesquisadores descobriram que os melhores indícios de logro são verbais -os mentirosos tendem a ter postura menos aberta e a contar histórias menos convincentes.

Uma técnica ensinada aos policiais é observar os movimentos ascendentes dos olhos das pessoas enquanto elas conversam. Isso se baseia na teoria de que as pessoas tendem a olhar para o alto à direita quando estão mentindo e para o alto à esquerda quando falam a verdade. Essa teoria, porém, ruiu quando foi testada por uma equipe de psicólogos. Eles não descobriram padrão algum nos movimentos oculares ascendentes de mentirosos e de quem falava a verdade.

"Não há nariz de Pinóquio ", diz uma autora do estudo sobre movimentos oculares, Leanne ten Brinke, da Universidade da Califórnia em Berkeley. No entanto, ela e outros argumentam que é possível detectar certos tipos de mentiras "de grande impacto" por meio da observação de alguns indícios corporais.

Stephen Porter, da Universidade da Colúmbia Britânica, diz que o baixo índice de êxito dos estudos se deve parcialmente a limitações de experimentos em laboratório nos quais se pede aos indivíduos para mentir sobre coisas que não têm importância para eles.

No ano passado, psicólogos da Universidade da Colúmbia Britânica treinaram profissionais da área forense para observarem expressões faciais e outros sinais de estresse ou incoerência em alguém contando uma história. Depois esses profissionais olharam cenas de noticiários nos quais pessoas imploravam pelo retorno de um parente desaparecido.

Algumas dessas pessoas eram sinceras, mas outras estavam mentindo (como acabou sendo revelado pela prova de que assassinaram o parente). Os profissionais treinados conseguiram identificar os mentirosos, obtendo um índice de acerto de 80%. Esse índice é impressionante, mas trata-se apenas de um experimento, e muitos pesquisadores questionam o quanto essas técnicas podem ser aplicadas com precisão no mundo real.

Por que acreditamos intuitivamente que podemos decifrar a linguagem corporal? Após escrever um livro sobre o assunto, o doutor Epley tem uma explicação. "Você sabe quando está mentindo ou enganando, se sente culpado e tem a impressão de que suas emoções estão transparecendo por meio de sua linguagem corporal", diz ele. "Você tem a ilusão de que suas emoções são mais transparentes do que de fato são, então também acha que os outros são mais transparentes do que realmente são."


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