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New York Times

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Lenhadores roubam madeira de sequoias raras

Por PATRICIA LEIGH BROWN

PARQUES NACIONAL E ESTADUAL DAS SEQUOIAS, Califórnia - Era um improvável local de crime: uma trilha íngreme, usada por ursos, levando a um antigo e pacato bosque de sequoias.

Lá, uma rara e velhíssima sequoia foi brutalmente atacada cerca de 15 vezes por lenhadores, um massacre da serra elétrica que deixou exposta a madeira vermelha do interior da árvore.

Os ladrões que abateram este e outros milenares gigantes arbóreos estavam atrás dos cecídios, as retorcidas protuberâncias nos troncos, valorizadas pelos complexos padrões na madeira.

Embora o furto de madeira há muito tempo seja um problema em terras públicas, uma recente onda de furtos de cecídios, com 18 casos conhecidos no último ano, obrigou as autoridades do parque a fecharem durante a noite uma estrada que passa por bosques antigos, para tentar onter os criminosos.

Alguns cecídios são pequenos, perfeitos para fazer saleiros de souvenir. Outros são enormes, e uma tábua feita com eles vale centenas de milhares de dólares.

Fatores como a crise econômica local e o custoso vício em metanfetaminas motivam os lenhadores, segundo as autoridades do parque, e os ladrões estão usando táticas cada vez mais ousadas e procurando cecídios maiores.

No ano passado, uma sequoia com cerca de 400 anos foi derrubada por ladrões que queriam ter acesso a um cecídio de 225 kg que estava a 18 metros de altura.

Foi a primeira vez que uma árvore inteira foi derrubada por causa do cecídio, diz Brett Silver, supervisor do parque estadual.

O cecídio era tão pesado que os ladroes o arrastaram com o veículo, deixando rastros. Seguindo-os, as autoridades encontraram o cecídio escondido sob um viaduto. "Quantos existem que nós não encontramos? Não é só um crime contra a propriedade. É um legado, como atacar uma igreja."

Este parque de 53,5 mil hectares, Patrimônio Universal da Unesco, abriga de uma parte significativa dos bosques virgens de sequoias que restam no planeta. As árvores crescem apenas na faixa entre a divisa da Califórnia com o Oregon e a região de Big Sur, na costa central californiana.

O cecídio, com seus padrões complexos e espiralados, é o resultado de um broto que não terminou de brotar; o parque o descreve como "um depósito para o código genético da árvore-mãe".

As sequoias longevas estão entre os mais tenazes organismos da Terra, sendo que algumas chegam a viver 2.000 anos ou mais.

A remoção do cecídio afeta a camada de câmbio vascular da árvore, o que a enfraquece e a torna vulnerável a insetos e doenças.

Os cientistas consideram os cecídios prodígios de biodiversidade: cecídios gigantes acima da copa das árvores abrigam moluscos, répteis e outras espécies.

"É como se você pegasse um pedaço da floresta e o suspendesse no ar", disse Stephen Sillett, professor da Universidade Estadual Humboldt, em Arcata.

Hoje em dia, uma paranoia se espalha por lugares como Orick, que fica perto da entrada sul do parque e orgulhosamente se vende como a "capital do cecídio".

Investigadores do parque se misturam aos compradores em lugares como a loja Burl Bill, que vende presentes feitos de sequoia -relógios, ursos e tábuas brutas- por US$ 500 (R$ 1.120) a US$ 700 (R$ 1.568) cada.

"Tudo aqui está morto há séculos", disse o comerciante Burl Bill, que não quis revelar seu nome.

Como a devastação tende a acontecer à noite e fora das trilhas estabelecidas, apanhar um ladrão em flagrante é raro, segundo Paul Gallegos, promotor distrital do condado de Humboldt.

A cultura local também estimula os furtos. "As pessoas ainda se sentem no direito de extrair da floresta para ganhar a vida."

Há uma forte demanda global. Gary Goby, fundador da madeireira Goby Walnut and Western Hardwoods, em Portland (Oregon), disse que um comprador local pode revender um cecídio para uma envernizadora no exterior, onde o material será cortado em finas fatias que revelam as elegantes linhas curvas da madeira. "Encontrar um comprador na internet é fácil, infelizmente."

Outro dia, Jeff Denny, supervisor do setor litorâneo de sequoias do parque, observou que os titãs da área sobreviveram a raios, incêndios, ventos fortes e outros desastres naturais. Porém, lenhadores com serras elétricas são outra coisa completamente diferente.

"Os consumidores devem conhecer a origem dos cecídios", disse ele, e "fazer uma pergunta difícil: de onde eles vêm?".


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