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New York Times

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Shimon Peres

Político força limites de cargo cerimonial

Por JODI RUDOREN

ROMA - Ao desembarcar em Roma, na mais recente de suas viagens ao exterior como presidente de Israel, Shimon Peres encarou o grupo de jornalistas que o aguardavam."Não posso falar de política", disse com uma risadinha. E, em seguida, começou a falar de política, dizendo, sobre o novo governo palestino criado por um acordo entre os militantes do Hamas e os moderados da Fatah, que "não se pode colocar fogo e água no mesmo copo".

Foi uma clássica declaração de Peres, uma metáfora poética que forçava os limites de um posto supostamente cerimonial. Aos 90 anos, ele é, por mais algumas semanas, o chefe de Estado mais velho do planeta. Peres está aproveitando todos os momentos restantes do cargo, da recente oração de cúpula com o Papa Francisco no Vaticano (onde teve a companhia de seu homólogo palestino), a uma viagem final de uma semana a Nova York e Washington.

Único sobrevivente da geração que fundou Israel que continua a deter um cargo público, Peres reinventou a Presidência do país e se reinventou nos últimos sete anos. Desdenhado por décadas como um negociador matreiro de acordos políticos que muitas vezes terminavam derrotados nas urnas, Peres agora é a figura pública mais popular de Israel e um estadista de respeito no cenário mundial. Por não dispor de poder para pressionar pelo avanço do processo de paz entre israelenses e palestinos, só lhe restava orar por ele.

"O sentido da vida não é o que se é ou o nome pelo qual se é chamado, mas aquilo que se faz", disse em Roma.

Tão irrequieto quanto persistente, Peres, que foi premiê por duas vezes e também ministro da Defesa, do Exterior, das Finanças e dos Transportes, recusa a ideia de se aposentar. Oficialmente, sua função é servir como ponte entre companhias de tecnologia e problemas ligados à pobreza, à saúde e ao desenvolvimento.

Porém, muita gente o vê como um manipulador da política interna de Israel, conspirando para reanimar a moribunda esquerda do país. Ele prometeu que não voltaria a disputar um cargo eletivo, mas muitos israelenses de esquerda dizem que ele começou a organizar líderes interessados em tirar do cargo o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. De qualquer forma, Peres em breve estará livre das restrições oficiais da Presidência e trocará uma mansão em Jerusalém por um apartamento em Tel Aviv.

Em 10 de junho, o Parlamento israelense elegeu Reuven Rivlin, político do partido Likud, antigo ministro e antigo presidente do Parlamento, para suceder Peres como presidente quando o mandato de sete anos deste se encerrar, no final de julho. Peres retornará ao Centro Peres para a Paz, em Jaffa, organização com orçamento de US$ 6 milhões e uma equipe de 34 funcionários.

Peres, nascido na Polônia e um dos protegidos de David Ben-Gurion, o primeiro premiê de Israel, negociou um acordo crucial de armas com a França nos anos iniciais do país e mais tarde se tornou o arquiteto do programa de armas nucleares israelense. Presença constante no Fórum Econômico Mundial, ele vem se dedicando a promover a nanotecnologia e a mídia social.

Desde que se elegeu presidente em 2007, depois de uma candidatura frustrada em 2000, Peres foi o anfitrião de 790 eventos em sua residência oficial e conduziu 1.350 reuniões oficiais de trabalho.

Em maio, ele acusou Netanyahu de bloquear o quase acordo que ele tinha negociado em 2011 com o presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina. Em Roma, enquanto Netanyahu reprovava o líder palestino por sua "parceria" com o Hamas, Peres e Abbas trocavam cumprimentos no Vaticano.

Isso aconteceu 21 anos depois que ele apertou a mão de Yasser Arafat no gramado da Casa Branca, quando da assinatura dos acordos de Oslo. O aperto de mão valeu aos dois um Prêmio Nobel da Paz. Mas a paz não parece estar à vista. "Não se pode julgar todas as coisas em termos de guerra e paz", disse Peres.

"Não esqueça que comecei a trabalhar com Ben-Gurion antes que o Estado fosse estabelecido. Houve grandes mudanças. Elas não são perfeitas e não são completas, mas se você comparar o que fizemos com 66 anos da história de qualquer outro país, creio que não ficaríamos em segundo."


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