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New York Times

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Inteligência/Erhard Stackl

Europa busca relação estratégica com a América Latina

SANTIAGO,Chile

Alvaro Fischer olha pela janela de seu escritório e tem uma visão do futuro do Chile. Ele pode enxergar uma torre quase terminada que, em breve, será o mais alto edifício do continente, com 300 metros, e imagina o dia em que o "Chilecon Valley" vai imitar o famoso polo de tecnologia dos Estados Unidos, a cerca de 10 mil quilômetros ao norte. Essa torre, o Costanera Center, e o nome Chilecon Valley são símbolos das aspirações de empresários latino-americanos como Fischer. Ele é o presidente da Fundación Chile, organização que levou seu país a ocupar o segundo lugar (depois da Noruega) na criação de salmão usando métodos inovadores. "Chilecon Valley poderá liderar o impulso de inovação e de empreendedorismo nesta parte do mundo", disse Fischer, "e se tornar o exemplo no Sul de seu mentor ao Norte".

A ascensão latino-americana no cenário econômico mundial não passou despercebida para os europeus, cujas economias estão presas em crises e recessões. Há um esforço para firmar laços entre as partes. No final de janeiro próximo, 60 chefes de Estado e de governo vão participar da primeira cúpula da Comunidade de Países Latino americanos e Caribenhos e União Europeia (CELAC-UE), em Santiago, no Chile. As economias latino-americanas tiveram índices de crescimento de 4% ou mais nos últimos anos, e as projeções para 2013 situam o índice do continente em 3,9%, segundo a Cepal, uma comissão da ONU especializada em América Latina.

Enquanto isso, as previsões de crescimento na Europa são de apenas 1,3%. Um "relacionamento estratégico" entre a América Latina e a União Europeia foi declarado em 1999. Hoje, essa ligação poderá ajudar a Europa a se recuperar de seu mal-estar, disse Benita Ferrero-Waldner, ex-comissária européia para Relações Exteriores. Como presidente da Fundação CELACUE, Ferrero-Waldner organizou reuniões com acadêmicos, empresários e líderes da mídia antes

da conferência de janeiro, que visa construir uma parceria para o desenvolvimento sustentável e socialmente responsável entre as duas regiões. A Europa está muito atrás da China em sua relação estratégica com a América Latina. A China

há muito tempo importa cobre do Chile e do Peru e soja do Brasil e da Argentina. Os produtos chineses baratos, incluindo marcas de carros como Chery, Byde Lifan, estão inundando as cidades sul-americanas. Desde 1990, a participação da Europa no comércio latino-americano declinou de 25%para 14%. A parcela dos Estados Unidos se manteve estável, em cerca de 40%. A Cepal prevê que a China poderá ultrapassar os europeus como o segundo parceiro comercial da América Latinaem2016.

Apesar dos números, Ferrero-Waldner vê vantagens no tipo de investimento que os europeus fazem. "A China e a Ásia, em geral, entraram à força na América Latina. Seus investimentos se concentram principalmente em matérias-primas.As companhias europeias investiram muito em outros setores com maior valor agregado, especialmente no de serviços."

A crescente dependência da China, cuja economia desacelerou recentemente, despertou preocupações. Ciclos históricos de crescimento e declínio em matérias primas no continente não foram esquecidos.

A União Europeia ainda lidera em investimentos diretos na América Latina, com US$ 18 bilhões somente em 2010. Sua parcela é de 40,6% dos investimentos diretos totais, enquanto os EUA e o Canadá respondem por 25,7% e a Ásia

por somente 7,3%. Um novo fenômeno conhecido como as "Multilatinas" pode ser parte da solução. As Multilatinas -enormes conglomerados como a Embraer (aeronaves) e a Odebrecht (construção, engenharia), do Brasil, e a América Móvil (telecomunicações), do México,- estão investindo bilhões de dólares em todo o mundo, inclusive na Europa. A corporação de cimento mexicana Cemex já adquiriu duas grandes empresas espanholas.

Esses conglomerados estão contratando muitos jovens profissionais europeus que vieram para a América Latina para escapar da crise de desemprego em seus países.

Uma nova iniciativa pede a cooperação de pequenas e médias empresas. O Brasil, apoiado por parceiros italianos, criou parques industriais para pequenos produtores de sapatos e móveis com bom design.

Essas companhias menores na América Latina oferecem novas oportunidades para empresas europeias especializada sem pequenas usinas hidrelétricas, como as alemãs Siemens e Voith, e na economia verde em geral.

Fischer está trabalhando com centros de pesquisa de todo o mundo para promover o intercâmbio de ideias e de tecnologia.

Um projeto é o de usinas de dessalinização de água movidas a energia solar, usando a água para transformar o deserto do norte do Chile em terra agrícola fértil. O deserto de Atacama tem o maior índice de irradiação solar do mundo. Suas baixas temperaturas e a altitude tornam a produção de energia solar excepcionalmente eficiente. "Solar Chile" poderia abastecer não apenas usinas de dessalinização, mas também a indústria de mineração local.

"A China é uma locomotiva para a América Latina, pois compra seus recursos básicos, mas não é considerada uma fonte de ideias nem de tecnologia e inovação", disse Fischer. "A Europa ainda tem as pessoas mais instruídas, ótimas instituições e tecnologia."

Concentrando-se nessas forças, ele acrescentou, a Europa "poderia se tornar a fonte de inspiração da América Latina e seu parceiro preferencial".


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