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New York Times

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Pobreza rural atrai atenção do governo chinês

Por ANDREW JACOBS

LUOTUOWAN, China - Nunca a pobreza opressiva foi posta sob tantos holofotes. Pelo menos é assim que os 600 produtores de milho deste remoto vilarejo montanhoso do norte da China estão se sentindo desde que, semanas atrás, o novo líder do país, Xi Jinping, apareceu para expor suas privações.

Com dirigentes partidários e fotógrafos a tiracolo, Xi entrou em acanhadas moradias rurais, afagou crianças sujas e mordiscou uma batata assada sobre gravetos oferecida por Tang Rongbin. "Foi como se tivéssemos conhecido o Mao", disse o ainda incrédulo Tang, 69, que divide uma cama com cinco parentes.

A visita a essa aldeia da província de Hebei, transmitida nacionalmente pela TV, serviu para salientar a preocupação de Xi com a pobreza rural, mas foi também um importante floreio propagandístico para polir a imagem do novo líder como um solidário homem do povo.

"Quero mostrar como é a vida rural", disse ele a certa altura, enquanto a câmera mostrava os detalhes da pobreza da família Tang: uma só lâmpada elétrica, um surrado teto de palha, panelas escuras e pilhas de detritos.

Desde a visita de Xi, não param de aparecer mantas, dinheiro e promessas de ajuda governamental. As autoridades ofereceram a cada lar o equivalente a US$ 160, um frasco de óleo de cozinha e um saco de arroz, produto precioso num lugar onde bolos e mingaus de milho costumam ser o prato principal.

Um empresário do nordeste chinês ficou tão tocado com a situação que dirigiu cerca de 800 km com mais dinheiro e o carro cheio de TVs de tela plana. Servidores públicos caiaram as paredes de pedra da aldeia. Aí vieram os pesquisadores do governo, que foram instruídos a resolver a intratável pobreza de Luotuowan.

Mas ainda não se sabe se haverá um impacto duradouro da visita de Xi, que foi recentemente nomeado secretário do Partido Comunista e deve tornar-se presidente do país em março. A renda per capita aqui, cerca de US$ 160 por ano, é menos da metade do limite oficial da pobreza e uma diminuta fração da renda média urbana, que atinge quase US$ 4.000. A maioria dos jovens foi embora há muito tempo atrás de empregos em cidades distantes.

O desafio de melhorar grotões pobres como Luotuowan é assombroso para o Partido Comunista, que prometeu combater uma desigualdade de renda que, segundo alguns especialistas, ameaça a estabilidade social e talvez até o poder do partido. Embora estatísticas oficiais divulgadas em janeiro sugiram que a disparidade de renda diminuiu, analistas externos consideram que ela na verdade se agravou, fazendo da China uma das sociedades mais desiguais do mundo.

No interior chinês, onde vive metade da população nacional de 1,3 bilhão de habitantes, a renda média não chega a um terço da renda urbana. Durante o 18° Congresso do Partido Comunista, em novembro, os líderes chineses prometeram duplicar a renda per capita até 2020.

"A tarefa mais árdua e pesada que a China enfrenta para completar a construção de uma sociedade moderadamente próspera está nas áreas rurais, especialmente em regiões assoladas pela pobreza", disse Xi durante a visita a Luotuowan, que fica a cerca de 290 km de Pequim.

Tang parecia convencido de que a visita de Xi irá melhorar drasticamente a vida da aldeia. "Temos que acreditar que algo de bom virá disso", afirmou. Questionado sobre o que o governo havia feito antes da vinda de Xi, ele fez uma pausa e balançou a cabeça. "Não muito", disse.

Como parte da campanha antipobreza anunciada dias depois da visita de Xi, autoridades provinciais devem destinar no próximo ano US$ 40 milhões adicionais a Luotuowan e outras aldeias no condado de Fuping. Mas, diante da desenfreada corrupção na China, não se sabe quanto desse valor efetivamente chegará aos necessitados.

Tang e sua mulher, Gu Baoqing, disseram que Xi perguntou sobre suas dificuldades, inclusive detalhes dos problemas cardíacos e circulatórios dele. Um médico chegou de Pequim dias depois e o levou para um hospital na capital. Tang voltou com um frasco de remédios. Ele diz que o medicamento custa quase o mesmo tanto que ele ganha em um ano. Mas a alegria de Tang estava matizada. Os comprimidos gratuitos vão durar só um mês. Questionado sobre o que fará depois, ele pareceu perplexo. "Acho que vou ficar sem..."


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