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New York Times

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Após prisão, estilista de sapatos volta à ativa

Por LAURA M. HOLSON

Numa manhã fria de janeiro, o criador de sapatos Steve Madden contemplava duas sandálias sobre sua mesa de trabalho em sua fábrica no Queens, em Nova York. Uma era preta, com sola fina, e a outra de um tom bege cremoso, com salto tão espesso quanto uma fatia de pão.

"Quero que essa sandália fique sobre essa sola", comentou, apertando a sola bege contra a parte superior preta. "Mas minha equipe está brigando comigo para deixar do jeito que está. Eu poderia ir lá e dizer: 'Chega de papo. Vamos fazer assim'. Mas então digo a mim mesmo: 'Estamos trabalhando juntos.'"

Colaborações podem ser difíceis, mas isso é melhor do que dividir uma cela de prisão com alguém sem saber se algum dia poderá reconstruir sua vida.

Dez anos se passaram desde que Madden foi sentenciado a 41 meses de prisão por fraude com ações (ele cumpriu dois anos e meio), após um tropeço movido por álcool, drogas e seu apego ao dinheiro. Hoje ele é chefe criativo e de design do império de sapatos que ele próprio fundou em 1990, tendo cedido o título de executivo-chefe a Ed Rosenfeld, ex-banqueiro de investimentos na Peter J. Solomon Company.

Mas Madden, 55, parece ser tão fundamental para a grife quanto sempre foi. Nos últimos anos, a empresa prosperou graças a aquisições, parcerias e apoio dado a estilistas "órfãos". Em 2010, a Steve Madden Ltd. salvou Betsey Johnson, comprando sua grife falida por US$ 2,7 milhões. Madden criou relacionamentos com a italiana Superga, fabricante de tênis, e com celebridades estilistas, como as gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen.

Neste ano, suas transgressões serão imortalizadas em "The Wolf of Wall Street", filme de Martin Scorsese que trata da empresa de investimentos Stratton Oakmont, que deu a Madden ações em ofertas públicas iniciais que ele negociou ilegalmente.

O passado do estilista não preocupa seus fregueses, sempre jovens. "Eles não têm recordação nenhuma disso" comentou Marshal Cohen, analista de varejo no NPD Group, empresa de pesquisas com consumidores.

Madden disse que hoje vive sóbrio. "Não posso consumir álcool e drogas em segurança, então opto por não consumir. Mas não é fácil." E rico: ele ganhou US$ 5,41 milhões em 2012 e recebeu US$ 80 milhões em ações de transferência restrita.

Uma coisa, porém, parece estar fugindo de seu alcance: a relevância. Embora seus sapatos possam ser encontrados nos guarda-roupas, em função de sua onipresença, os jovens criadores de tendências não tendem a promover sua grife.

O fato de a elite da moda o esnobar, vendo-o como criador de imitações, irrita Madden. "Não temos o reconhecimento da comunidade da moda", comentou. "Somos influenciados por Christian Louboutin? É claro que sim. Mas a gente cria sapatos novos todos os dias, quase sempre, e as pessoas não percebem isso."

Madden trabalhou em várias grifes de sapato antes de lançar sua própria marca. Em 1993, ele pôs as ações de sua companhia à venda na Bolsa de Valores e contratou a Stratton Oakmont, cofundada por seu amigo Daniel Porush. Madden disse que vendeu ações da Stratton Oakmont com lucro rápido e dividiu os lucros com executivos da companhia de Porush.

Em maio de 2001, Madden se declarou culpado de conspiração para cometer lavagem de dinheiro e fraude financeira, sendo sentenciado à prisão. Em setembro de 2002, começou a cumprir a pena numa prisão na Flórida.

"É um mundo diferente", comentou. "Acabaram-se os restaurantes, o sexo, a comida boa, a família. Você passa a ter uma vida diferente, espartana."

Na prisão, ele acalmou. "Você não pode imaginar", comentou. "Acho que na prisão você ganha uma perspectiva diferente."

Rosenfeld enxerga um benefício espiritual no sofrimento pelo qual Madden passou. "Muitas vezes, quando estamos preocupados com alguma coisa, ele me diz: 'Sete anos atrás, eu estava sentado numa cela de prisão. A gente não vai morrer se este sapato não vender bem.'"


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