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Opinião

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William Stoddart e Mateus Soares de Azevedo

Outros islãs

Os terroristas romperam com os pilares do islã ao visarem civis não combatentes e ao operarem com base em ódio contra cristãos e judeus

A natureza e os propósitos essenciais do islã, a mais recente (1.400 anos), difundida (1,5 bilhão de aderentes) e influente (50 países) das tradições espirituais da humanidade, continuam desconhecidos do público ocidental.

Entre as causas dessa desinformação estão a mera carência de dados doutrinais e históricos, diferenças de perspectiva intelectual e moral entre ocidentais e muçulmanos, interesses velados e preconceitos.

O fato de o islã ser fonte cotidiana de notícias não muda substancialmente esse panorama, pois a maioria é negativa. Um dos fatores a explicar isso é a falta de esclarecimento acerca de diferenças entre as várias correntes que se confrontam no próprio mundo islâmico.

É preciso transcender a dicotomia simplista e superficial entre "moderados" e "extremistas". Ela não é acurada e escamoteia diferenças cruciais. Mesmo a diferenciação entre sunismo e xiismo é exposta de maneira vaga.

Outra fonte de desinformação deriva do fato de se chamarem os terroristas de "fundamentalistas". O termo em si significa alguém que se apega a princípios, ou "fundamentos". Mas os terroristas romperam com os pilares do islã ao visarem civis não combatentes e ao operarem com base em ódio religioso contra cristãos e judeus --"povos do Livro", segundo o Alcorão.

Quanto aos wahabitas, eles se caracterizam por literalismo e estreiteza. São eles os verdadeiros fundamentalistas, não os terroristas. Os wahabitas estão longe de representar de forma plena e integral o islã. Pelo contrário, são refratários à rica filosofia islâmica, bem como à sua mística.

O fato de que aderentes de três das quatro principais correntes políticas, listadas abaixo, serem chamados todos de "fundamentalistas" causa obscurecimento de diferenças reais.

Outro ponto: alguns vão se surpreender ao dizermos que houve, no século 20, bons governantes e estadistas muçulmanos. Quem já ouviu falar do rei Idris, da Líbia, dos mais sábios líderes da época? Governante de 1951 a 69, ele liderou a resistência contra a ocupação italiana e foi deposto num golpe liderado pelo então coronel Gaddafi. E de Abu Bakr Tafawa, primeiro-ministro da Nigéria (1960-66), ou Tunku Abdul Rahman, premiê da Malásia (1957 e 70)? Foram ilustres e competentes, mas quem se lembra deles?

Ao considerar os muçulmanos de hoje, temos de distinguir os "tradicionais" (ou espirituais) dos "revolucionários", incluindo os terroristas entre estes. E, igualmente importante, distinguir os tradicionais dos fundamentalistas. Seriam, então, quatro categorias principais.

1. Líderes "tradicionais": os homens citados acima.

2. Wahabitas: os "fundamentalistas", estão longe de representar a tradição islâmica em sua plenitude.

3. "Revolucionários islâmicos": seguidores de Khomeini no Irã ou de Gaddafi na Líbia, todos demagogos e coletivistas. Os principais grupos terroristas estão nesta categoria. Eles reivindicam o nome "islã", mas são de fato letais para ele. Infelizmente, é gente desse tipo que o público ocidental vê como "muçulmano típico".

4. Secularistas: inclui figuras como Assad, da Síria, e o finado Saddam Hussein, do Iraque. São basicamente antirreligiosos, portanto o termo "fundamentalista", no sentido literal, é inapropriado.

Aqui, tratamos de categorias políticas e, portanto, não é o lugar de abordar o sufismo, a mística islâmica. Não obstante, em razão de sua importância, concluímos com uma palavra sobre ele.

Seus chefes se engajam na ação política direta somente de forma secundária. Seu foco é a contemplação, não a ação, mas nem por isso deixam de ter uma influência positiva. Um exemplo foi o célebre emir Abdel Kader (1808-1883), que, mesmo místico, liderou a resistência contra o colonialismo francês.


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