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Carl Meacham

Brasil: a paixão pode esperar?

Acostumados com o Brasil como história de sucesso, os norte-americanos estão confusos. Parece que o país é vítima do próprio crescimento

Quando pensam no Brasil, os norte-americanos não costumam associá-lo a protestos. Futebol e Carnaval dominam. Imagine, portanto, a surpresa diante das imagens de manifestações maciças, algumas das quais violentas, realizadas no Brasil nos últimos 30 dias.

Os norte-americanos contemplaram chocados o desenrolar dos atos. Nos momentos mais intensos, viram policiais lançando armas nas fogueiras dos manifestantes e aderindo ao movimento e o vídeo de uma jovem pedindo a atenção dos norte-americanos às suas demandas.

A ampla dispersão dos protestos e a diversidade demográfica dos participantes despertaram a atenção dos norte-americanos para as preocupações dos brasileiros. Provaram ser muito mais amplas que apenas o custo do transporte público.

Tendo contemplado um Brasil alardeado como história de sucesso sul-americana, destinado a exibir suas realizações ao mundo em sua função de anfitrião das próximas Copa e Olimpíada, os norte-americanos estão confusos.

Hoje, o Brasil se parece mais com o Chile, cuja ascensão fiscal e econômica na década passada ocorreu à sombra de um movimento de protestos --e eles continuam, apesar de períodos de pausa.

O que o movimento de protestos chileno nos ensinou é que o crescimento não é uma panaceia para os problemas de um país. Embora o sucesso econômico de um Estado permita que seu governo enfrente desafios domésticos, esse mesmo sucesso intensifica as pressões para que líderes realizem bem seu trabalho.

No Brasil, essa pressão se traduziu em demanda por serviços de boa qualidade para todos. Como no Chile, o sucesso econômico despertou expectativas quanto à capacidade do governo para servir os cidadãos.

E porque o governo canalizou bilhões de dólares às instalações para a Copa do Mundo e a Olimpíada, a indignação pela lentidão do governo em usar esses recursos para melhorar as escolas e expandir seus programas sociais se multiplicou. Em certo sentido, portanto, o Brasil é vítima de seu sucesso.

Mesmo com a perda de ímpeto, porém, resta pouca dúvida de que os brasileiros continuarão a exigir que as necessidades expressas nesses protestos sejam atendidas.

Desde o início da mobilização, o índice de aprovação de Dilma caiu de 51% para 30%. Enquanto isso, um movimento no seio do PT pede o retorno de Lula --ainda que ele dificilmente possa ser visto como solução. E a despeito de seu esforço por promover mudanças em resposta à demanda dos manifestantes, a inquietação social tornou menos seguro o caminho de Dilma para um segundo mandato.

O jogo apaixonado da seleção contra a Espanha na final da Copa das Confederações serviu de símbolo à poderosa transformação no Brasil. Enquanto os jogadores cantavam entusiasticamente o hino nacional e corriam à beira do campo para abraçar a torcida a cada gol, o mundo pode ver um time orgulhosamente unido à torcida. A solidariedade era palpável.

O que Dilma sem dúvida sabe --e os manifestantes muitas vezes esquecem-- é que mudança política e social é inevitavelmente um processo gradual. Mas será que as demandas dos brasileiros podem esperar?


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