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Eduardo de Carvalho Andrade

A irrelevância do nome

Dilma é quem controla a política econômica. Substituir o ministro da Fazenda por alguém não respeitado não contribuiria com nada

Pressões de origens distintas, de longínquos veículos da imprensa internacional e até de aparentemente próximos companheiros não foram capazes de demover a disposição da presidenta Dilma de manter Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda.

No contexto atual, o nome do ministro é irrelevante. Se Mantega sair, o mais provável é que ele seja substituído pelo "Guido do Mantega".

Questão importante para o governo é impedir que a inflação rompa o teto da meta de 6,5%. A pergunta que se coloca é a mesma já feita: o governo do PT fará os ajustes necessários nas políticas monetária e fiscal, ambas caminhando na mesma direção, para segurar a inflação?

Ao Banco Central foi concedido o direito de subir as taxas de juros. Não se sabe se terá autonomia para elevá-las na magnitude necessária.

No âmbito fiscal, questiona-se a pertinência da manutenção de Mantega. Ele é o que se pode chamar de "soldado do partido": segue as ordens do seu comandante. No governo Lula, respeitou o tripé macroeconômico --câmbio flexível, meta de inflação e seriedade fiscal-- herdado do antecessor, Antonio Palocci.

Quando veio a crise internacional de 2008, usou todos os instrumentos à disposição para impedir a recessão econômica. Por um lado, seguiu uma política fiscal expansionista anticíclica, com elevação dos gastos e concessão de isenções tributárias. Por outro, seguiu políticas menos convencionais, aumentando os desembolsos do BNDES e forçando os bancos públicos a expandirem os créditos. As medidas foram elogiadas ou toleradas em face da gravidade da crise.

No governo Dilma, Mantega seguiu a heterodoxia. A defesa da indústria nacional, a meta para a taxa de juros e políticas discricionárias com isenções fiscais para setores escolhidos de forma ad-hoc passaram a dar o tom.

Ele priorizou o câmbio desvalorizado, abandonou a seriedade no trato das contas públicas --com a contabilidade criativa-- e o centro da meta de inflação foi deixado de lado. Enfim, abandonou o tripé macroeconômico seguido por ele mesmo no passado.

Talvez o verdadeiro Mantega esteja mais próximo deste do governo Dilma do que aquele do governo Lula. Tendo em vista o perfil da presidenta, é impossível imaginar que ela tivesse permitido seu ministro dar uma guinada na política econômica sem o seu consentimento.

Depois de seguir a heterodoxia, é difícil para ele recuperar a credibilidade e fazer o ajuste fiscal.

Mas o ponto central é que o controle da política econômica está nas mãos da presidenta. Substituir o ministro da Fazenda por alguém desconhecido ou não respeitado não contribuiria em nada. A desconfiança de que seria mais um "soldado do partido" não se dissiparia.

A alternativa seria eleger um nome de peso como Henrique Meirelles, já especulado, que adotaria o próprio estilo. Seria uma postura pragmática da presidenta, na linha da adotada por Lula, além de um reconhecimento de que a política econômica até aqui foi um equívoco.

Se um dia essa possibilidade chegou a ser cogitada, hoje ela é remota. O motivo é simples: caso recebesse a autonomia na condução da política econômica, um nome de peso teria incentivos para aceitar fazer um ajuste fiscal no curto prazo, contando com a perspectiva de se manter mais quatro anos no cargo, com a presidenta reeleita. A reeleição se tornou bem mais incerta depois das manifestações que tomaram as ruas do país.

Nesse cenário, o nome do ministro da Fazenda é irrelevante, assim como especulações sobre a mudança do seu titular.


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