Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

José Armênio de Brito Cruz

A profissão de paisagista deve ser autônoma?

Profissional generalista

não

O desenho da paisagem demanda uma abordagem globalizante, generalista, natural ao arquiteto. O profissional que pensa a paisagem deve considerar todos os seus componentes, naturais e antrópicos e também os culturais e artísticos.

A escola que garante essa formação é a de arquitetura e urbanismo. O Brasil tem hoje 311 delas, que formam profissionais de diversas especialidades, inclusive a de paisagista. O paisagismo, por tanto, já está regulamentado. Não é preciso criar mais uma especialidade.

Para além da discussão de classe, muitas vezes revestida de argumentações com tonalidades de proteção de mercado, é necessária uma reflexão sobre a demanda do país neste momento e o caminho da pesquisa, da ciência e da arte no mundo. O conhecimento não é uma estante de pacotes fechados de diversas especialidades. A integração é a perspectiva.

Envolvido em um projeto de um laboratório cujo tema era a sustentabilidade, tive a oportunidade de, por meio de pesquisa internacional, tomar contato com os centros de pesquisa mais avançados do mundo. Chamou-me a atenção um laboratório na Inglaterra no qual cientistas da oceanografia dividiam a bancada de trabalho com engenheiros eletrônicos e biólogos. Eles estudam a influência das marés na vida marinha por meio de um monitoramento conduzido por circuitos eletrônicos. A interdisciplinaridade é, pois, a base de seu trabalho.

A paisagem tem essa característica agregadora. O desafio no planejamento e na construção do território nacional é justamente o da integração das disciplinas. As vocações pessoais, assim como o direcionamento na formação e exercício profissional, encontram espaço dentro da escola de arquitetura, que garante a formação global inclusive para as corretas escolhas individuais.

Em vez de discutir um projeto de lei (PL nº 2.043 de 2011) que direcionará recursos para uma especialidade equivocada na sua origem, deveríamos discutir formas para que os recursos investidos nas escolas de arquitetura e empreendidos por inúmeras pesquisas de arquitetos, inclusive arquitetos paisagistas, tragam retorno ao país.

O território brasileiro desconhece o planejamento, e não será a oficialização de um especialista que garantirá a mudança necessária. Não se deve evitar a contaminação, positiva, do pensamento universal na administração pública e nas decisões privadas afeitas ao território.

Em um projeto paisagístico, o conhecimento sobre transportes, urbanismo e infraestrutura é tão importante quanto o da biologia --da flora, da fauna e do clima. É a integração que garante a qualidade do projeto, não a especialização.

Em 2012, começou a funcionar o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), entidade que regulamenta e fiscaliza a profissão do arquiteto. Sua resolução número 51, de julho de 2013, que dispõe sobre as áreas de atuação privativas dos arquitetos e urbanistas, coloca a arquitetura paisagística no escopo da atuação de seus profissionais.

A criação do conselho é baseada na definição do arquiteto e urbanista como categoria uniprofissional, de formação generalista, cujas atividades, atribuições e campos de atuação encontram-se discriminados no art. 2º da lei nº 12.378 de 31 de dezembro de 2010 e garante o sentido globalizante da formação do arquiteto.

A aproximação do ensino de arquitetura das necessidades do país por meio de sua qualificação e atendimento às demandas da população é o que realmente deveríamos discutir. A qualificação da vida nas nossas cidades só será alcançada por meio do resgate do que essa peculiar forma de conhecimento --a arquitetura-- tem a contribuir.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página