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Rubens Figueiredo

Preferências ilógicas

A maioria quer mudanças, mas mantendo Lula e Dilma! Numa situação assim inusitada, eventos como Copa e CPI podem decidir o pleito

O único aspecto previsível da eleição presidencial de 2014 é a imprevisibilidade. Desde 1989, o eleitorado brasileiro vem organizando suas preferências em torno dos grandes eixos mudança versus continuidade. Naquele ano, quanto mais ruptura com o "status quo" e propostas inusitadas o candidato representasse, mais chance teria.

Em 1994, com o sucesso do Plano Real, o eleitorado apostava na continuidade. Ser contrário à estabilidade da moeda era quase uma heresia. Lula e o PT tiveram que fazer contorcionismos argumentativos para serem "do contra". Em 1998, com nuances diferentes (havia uma crise internacional), apostou-se mais uma vez na continuidade, desta vez mais por medo de arriscar do que por elevada satisfação com o governo.

Já em 2002, a mudança voltou a prevalecer. Lula e o PT representavam o novo. No primeiro semestre, já dava para arriscar, sem chance de errar, quem venceria. Em 2006, apesar do mensalão, revelado no ano anterior, o favorito era Lula, pela elevada aprovação de sua administração e sua inigualável capacidade comunicativa-performática.

Em 2010, o governo Lula atingia inacreditáveis 80% de avaliações positivas. Nem Winston Churchill [primeiro-ministro britânico de 1940 a 1945 e 1951 a 1955] chegou a tanto. Nesse patamar, a situação não perde de jeito nenhum e a tônica quase automática da eleição é a continuidade. Nem o escândalo de Erenice Guerra, assecla principal de Dilma Rousseff enquanto ministra da Casa Civil, abalou o favoritismo da então candidata petista.

Chegamos a 2014 numa situação inusitada. Cerca de 70% dos brasileiros querem mudança. Estudos que correlacionam aprovação do governo com capacidade de vitória eleitoral mostram que, no patamar que está, o normal é Dilma perder. Mas quando se pergunta: mudar com quem? Os eleitores respondem: mudar com Lula, mudar com Dilma!

Ou seja, a percepção de sucesso dos governos petistas pelos eleitores inviabilizou a sedimentação, nesses quase 12 anos, de um ponto de referência oposicionista. Na era FHC, os opositores estavam bem definidos na cabeça dos eleitores: eram Lula e PT. Nos últimos anos, o discurso petista da "herança maldita" não teve resposta à altura do PSDB, que se retraiu, o DEM foi definhando e as duas outras grande lideranças oposicionistas --Eduardo Campos e Marina Silva, hoje ambas no PSB-- participaram das administrações petistas.

Como no samba de Tom Jobim, o eleitor brasileiro se tornou quase o espectador de um partido só. O PT batia escanteio e corria para área cabecear. A certa altura de seu governo e contrariando qualquer preceito lógico, Lula tornou-se uma espécie de ombudsman de sua própria administração. Falava dos problemas do Brasil e cobrava soluções, como se não tivesse nada a ver com o que estava acontecendo.

O eleitor parece um pouco saturado disso tudo, a economia não anda lá essas coisas, a ideia da presidente-gestora foi colocada em dúvida e dois fantasmas rondam a fortaleza petista. O primeiro é a Copa e a ameaça de manifestações. O segundo é a CPI da Petrobras. São eventos de grande magnitude que podem, em uma situação de preferências ilógicas, decidir o pleito de outubro.


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