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Walmir Coutinho

Inibidores de apetite devem ser proibidos?

NÃO

São mais que três quilinhos

Mais da metade dos adultos brasileiros está acima do peso e um em cada seis já tem o diagnóstico de obesidade. Quem já tentou emagrecer sabe que os tratamentos são cheios de armadilhas. Baixar o peso até pode ser fácil, mas manter um bom resultado a longo prazo é sempre mais complicado.

É aí que entram os remédios. Claro que seria mais seguro emagrecer só com dieta e exercício. Todo medicamento traz algum risco para a saúde. Será então que devem ser usados? Por trás dessa dúvida se esconde um preconceito cruel. Aquela velha ideia de que usar remédio para emagrecer é coisa de preguiçoso, que com um pouquinho de força de vontade qualquer obeso consegue resolver o seu problema.

Não é isso que a ciência médica tem mostrado. Está claro que a maior parte desses pacientes só consegue um bom resultado com a ajuda dos medicamentos. E eles não têm culpa. Muitos nasceram com forte tendência genética para acumular gordura e metabolismo lento.

Quando decide receitar um remédio para auxiliar, o médico conta com pouquíssimas opções. No Brasil só temos dois agentes aprovados para o tratamento da obesidade: o orlistate e a sibutramina. E nenhum deles resolve o problema de todos os pacientes. Pelo menos um em cada três pessoas que tentam emagrecer com esses remédios não consegue o resultado esperado.

É aí que deveriam entrar os inibidores do apetite. São remédios antigos, que chegaram ao mercado há décadas, quando não se exigiam com tanto rigor pesquisas clínicas para comprovar eficácia e segurança. A principal justificativa da Anvisa quando proibiu o uso dos inibidores foi justamente essa escassez de estudos clínicos controlados.

As sociedades científicas representativas dos médicos que tratam os pacientes obesos foram contrárias à proibição por entenderem que, apesar da escassez de estudos clínicos, o equilíbrio entre o risco e o benefício ainda pende em favor de sua utilização. Claro que só quando são bem prescritos. Para uma pessoa que só precisa perder quatro ou cinco quilos, certamente o risco será maior que o benefício.

Esse parece ser o pomo da discórdia. A Anvisa preocupou-se principalmente em proteger esses brasileiros que usavam de forma abusiva os inibidores de apetite. As sociedades científicas se concentraram em lutar pelo acesso dos pacientes verdadeiramente obesos a esses medicamentos, por entenderem que, apesar de antigos, são razoavelmente eficazes e seguros.

A questão do acesso é um ponto crucial. Logo devem chegar novas opções de remédios ao mercado brasileiro. Os americanos já têm à sua disposição dois novos e promissores agentes antiobesidade. Ambos chegam respaldados por pesquisas clínicas que envolveram milhares de pacientes e centenas de milhões de dólares em investimentos.

Mas quando a Anvisa aprová-los, se aprová-los, deverão custar pelo menos R$ 200 a R$ 300 por mês. E aí como fica o acesso? A grande maioria dos obesos brasileiros só poderão comprá-los depois de dez anos, quando expirar a patente e despencar o preço ao consumidor.

Para sair desse impasse, o caminho legislativo promete ser tortuoso. O Congresso não está aparelhado para avaliar tecnicamente o risco e o benefício dos medicamentos. Ainda que estivesse, parece esdrúxulo termos uma lei proibindo a agência regulatória de regular.

O cenário ideal seria o de uma maior aproximação entre a Anvisa e as sociedades científicas. Precisamos encontrar o equilíbrio que garanta a prescrição responsável, livrando de um risco desnecessário os brasileiros com pequeno excesso de peso e garantindo o acesso aos pacientes que de fato necessitem.


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